Causo – Quando uma desgraça é presente dos deuses

      Imagino que a maioria dos poucos que leem o que escrevo, tem conhecimento de que sou bancário, há trinta e três anos.

Nosso causo de hoje é mais um que é a pura verdade, aconteceu em uma das agências do Banco do Brasil no interior de nossa Bahia, se você duvidar pergunte ao Rangel, que jamais me deixaria mentir sozinho.

Pois bem, no passado recente, existia no banco uma categoria de funcionário chamada de INSPETOR, que rima em trova e semelhança com TERROR. Quando chegava numa agência um desses indesejáveis cidadãos, sabia-se que seriam dias de muito sofrimento e tortura, eles tinham o poder e as armas para vasculharem toda a vida da agência e dos que faziam parte dela, desde o cara do cafezinho, até o gerente da agência, que era quem mais padecia, principalmente se a agência tivesse problemas nos serviços que prestam e nos produtos que oferecem. Foi aí que o bicho pegou, pois a agência em questão estava com sérios problemas: contratos mal feitos, documentos desaparecidos, extintores de incêndio com prazo de validade vencido, e estes eram os menores, dos maiores nem vou falar, pois mesmo o Gerente já estando aposentado, se citasse acho que ele seria demitido.  A chegada de um Inspetor era algo mais temido do que o Vasco ser Campeão Brasileiro outra vez, o Vasco não foi Campeão em 2011, mas o Inspetor…

Numa segunda-feira, dia de feira naquela localidade, logo no começo da manhã, filas enormes, um calor da pêga e o telefone toca. Quando o colega atende, alguém do outro lado da linda diz que precisa falar com o Gerente, desesperadamente. O colega corre para chamar o gerente que vendo a cara do mensageiro, atende de imediato –

– Alô, quem fala?

A ligação era de um amigo, também colega que trabalhava em Salvador e que ficara sabendo da ida de um Inspetor para aquela dependência, que resolveu ajudar o amigo, pedindo para que ele se preparasse para o pior, pois a missão era para o Inspetor só voltar quando tudo se resolvesse, bem ou mal. Entenda mal como demissão, perda de comissão, fechamento da agência e por aí vai. O Gerente perdeu a voz, a cor e suava igual a passageiro dentro de buzu lotado em Salvador. Reuniu as últimas forças que ainda lhe restava, mandou fechar as portas da agência e deu a ordem para que todos focassem seus esforços em arrumar o que ainda se podia, tipo: salve-se quem puder.

Os minutos voavam, os semblantes enrugados dos colegas denunciavam a situação calamitosa, era como a espera do Armageddon, o fim do mundo com aviso prévio. Silêncio total, podia se ouvir o barulho das asas de um mosquito voando, diga-se de passagem, que até os mosquitos estavam se picando, pois quem espera tempo duro é lajedo.

Lá pelas 11h da manhã para um carro com placa de outra cidade na porta do banco, descem dois homens bem vestidos, ternos pretos, sapatos lustrados, cabelos arrumados – o Gerente os vê pelo vidro da porta de entrada e parece que alguém gritou estátua, como naquela brincadeira de garotos, pois todos os funcionários ficaram imobilizados pela cena dantesca, com as pernas tremulas o Gerente reúne suas últimas forças e pede para o vigilante abrir a porta da agência para os Senhores que se aproximavam.

Os homens de preto entraram e foram logo perguntando quem era o Gerente – O Gerente viu em segundos toda a sua carreira no banco passar em sua frente, como num filme. Desde sua posse no interior do Pernambuco, passando pelas alegrias dos comissionamentos, suas cantadas nas moçoilas usando o jargão – SOU FUNCI DO BANCO DO BRASIL – que abrira tantas portas e tantas outras coisas. Era o fim de uma história brilhante.

Os homens se aproximam daquele farrapo de gente, todo desarrumado, suado, acabado e diz:

– Você é o Gerente?

Ele já sem voz balança a cabeça afirmativamente.

Os homens de preto chegam bem perto do Gerente, abrem ao mesmo tempo seus paletós e mostram cada um  o que trazem no cinto: revólver 44, pistola 765 e uma faca e dizem:

– É um assalto, passa todo dinheiro do cofre, sem boquejar ou começamos a matar todo mundo.

Em poucos segundos aquele farrapo humano se transformou no mais feliz de todos os seres humanos e gritou em alto e bom som:

– GRAÇAS A DEUS!

-DEUS ABENÇOE VOCÊS!

– SEJAM MUITO BEM VINDOS!

 O cofre fica a direita do corredor, passa as chaves aí Ô Toninho! – Graça, vá juntando o dinheiro dos caixas que os moços estão com pressa. Por favor, me sigam. Vocês têm onde colocar todo o dinheiro? – Jota, arruma aí uns malotes para botar o dinheiro do cofre. Vocês aceitam um cafezinho?

Os meliantes recebiam os malotes com o dinheiro, sem nada entender, eles nunca fizeram um assalto onde a vitima agradecia e se portava de maneira tão amável. Não sabiam eles que por pior que fossem não chegariam nem aos pés de um INSPETOR DO BB.

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3 Comentários

  • Felipe disse:

    Nelson Rubens, aumenta mas nao inventa.
    Quem conta um conto, sempre aumento um ponto, para q o conto fique pronto.

  • Matos disse:

    Décio, quando vc vai escrever um livro com suas memórias? Quero ser o 1o a comprar. Rio muito com suas histórias. Parabéns, escreva mais, precisamos ir mais e enrugar a testa menos. Abraços

  • patrícia disse:

    kkkkk Só msm vc Décio!!!

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