A gagueira: um distúrbio da fala que envolve bloqueio na criança

fotogagueiraA gagueira consiste num distúrbio do fluxo e do ritmo normal da fala que envolve bloqueios na criança, ela ocorre entre os 3 e 7 anos de idade e ainda pode ocorrer na puberdade. Ela atinge mais o sexo masculino do que o feminino, como todos os distúrbios de linguagem. Para cada menino gago, há apenas uma menina afetada pelo distúrbio. Entre os adultos, a proporção é de dez homens para cada duas mulheres.

Pessoas com gagueira, muitas vezes, vivem um grande sofrimento interno. O individuo tem o que falar, sabe o que dizer, mas não consegue e isso acaba interferindo na comunicação e no desempenho escolar ou profissional. Ter paciência e respeito com as pessoas que tem gagueira é fundamental.

Pedir uma informação, responder a chamada na sala de aula, conversar com os amigos, desabafar, enfim, se comunicar. O distúrbio na fluência da fala que, muitas vezes, vira motivo de piada, não tem graça. Quem tem gagueira sofre com as gozações e o preconceito. Segundo especialistas, esse tipo de comportamento pode acarretar impactos psicológicos e prejudicar o tratamento. Na infância, os danos podem ser agravados. Afinal, é nesse período que as relações sociais estão sendo estabelecidas.

Na escola, as crianças que possuem gagueira costumam ser alvo recorrente do bullying, quando são intimidados e humilhados por conta da sua condição. E acabam desencadeando problemas como depressão, ansiedade, estresse, dores não-especificadas, perda de auto-estima, problemas de relacionamento.

A gagueira consiste num distúrbio do fluxo e do ritmo normal da fala que envolve bloqueios, hesitações, prolongamento e repetições de sons, sílabas, palavras ou frases. Faz-se acompanhar freqüentemente por tensão muscular, rápido piscar de olhos, irregularidades respiratórias e caretas. A repetição de sílabas e palavras pela criança – “ma, mamãe” – costuma acontecer na época do início da fala. Sentido dificuldade para achar o que vai ser dito, as crianças quando excitadas, acabam repetindo palavras até encontrar uma saída. Mas essa característica desaparece à medida que sua linguagem evolui e elas se acostumam à verbalização. Neste caso, o problema e quase passageiro, considerado uma ocorrência normal do aprendizado.

A gagueira é patológica quando se observam emissões do tipo “m – m mãe, ma – ma – mãe, em que há repetição, prolongamento ou interrupção dos sons que iniciam a palavra. No momento em que a criança se da a pronúncia, ocorrem contrações no aparelho fonador e na musculatura de diversos setores do corpo. Em conseqüência, o rosto se contrai, os lábios ficam esticados e, ao tentar se expressar a criança repete os sons. Em alguns casos, ela intercala entre uma palavra e outra expressões curtas – “e, ah” – que não tem significado algum nas frases, mas ajudam a ganhar tempo.

Os erros típicos da gagueira são freqüentemente acompanhados por sintomas secundários, tais como: caretas, sapateado, e outras atitudes estranhas que nada tem a ver com a produção da fala. Esses sintomas aparecem a medida que aumenta a gravidade do distúrbio. De acordo com as pesquisas, isso ocorre por medo de gaguejar. A gagueira pode ser contínua ou surgir apenas determinadas situações que sensibilizem a criança. Muitos gagos falam com fluência quando estão sozinhos ou quando cantam. Outros também ficam livres do distúrbio ao adotar determinada postura, fazendo até um verdadeiro ritual: colocam a mão no bolso, apertam as mãos ou inclinam a cabeça.

Classificação da gagueira quanto aos movimentos:

Simples – quando não acompanhada de movimentos;
Associada – quando acompanhada de movimentos.

Quanto à pronúncia:

– repetição da primeira sílaba;
– repetição de consoantes;
– prolongamento da primeira letra, seja consoante ou vogal.

Quanto ao aparecimento:

– continua, aparece em todas as condições;
– circunstancial, aparece em determinadas condições ou situações.

Quanto á emoção:

– primeira, quando não está ligada a emoção;
– secundaria, quando há evidencia de componentes emocionais.

Origem da gagueira

As concepções mais antigas salientavam os fatores orgânicos, como a hereditariedade e a falta de preponderância de um hemisfério cerebral; mas atualmente, o distúrbio é definido como anomalia de causas múltiplas, que predispõem, determinam, desencadeiam ou agravam o quadro clínico. Os tipos de prova apresentada em apoio a etiologia orgânica da gagueira são:
A incidência do distúrbio em família de gagos é muito maior do que nas famílias de não gagos, sugerindo uma possível base genética. A gagueira é mais freqüente entre pessoas que usam a mão esquerda e entre pessoas também canhotas, mas que mudam sua preferência original (prova usada para apoiar a concepção da ausência de hemisfério cerebral dominante como causa da gagueira).

Está associada o nascimento múltiplo (gêmeos) e a prematuridade.

Entre os gagos há uma incidência maior de distúrbios do sistema nervoso central. Ainda no aspecto orgânico, várias teorias afirmam que a gagueira é causada por perturbações do aparelho fonador. As mais recentes supõem que o freio da língua muito curto ou longo seja responsável pelo distúrbio.
As teorias neurológicas destacam, como possíveis causadores da gagueira, os traumas de nascimento (acidentes de fórceps), as infecções por encefalites ou moléstias infecciosas, como meningite, e as epilepsias.
A teoria glandular salienta que os distúrbio provem do aumento ou diminuição da função das glândulas sexuais e da supra-renal.

A gagueira também pode ser atribuída a causas funcionais.

Dentre elas:
– O problema varia em função de fatores situacionais, como a perda de um ente querido, um acidente ou quando a pessoa e severamente repreendida.
– A gagueira tem profundos componentes emocionais.
– Na maioria das vezes, desenvolve-se nos períodos em que a criança sofre considerável pressão social (quando aprenda a falar, quando entra na escola, na adolescência).

– Os pais de pessoas gagas em geral manifestam um padrão característico: perfeccionismo em alto nível de aspirações para seus filhos.
– As teorias psicológicas afirmam que, em quase todos os casos, o elemento desencadeador seria um distúrbio emocional, quer como um conflito atual (stress ou crise) quer como ansiedade em evolução, causada por conflitos progressivos.

Fases da gagueira:

Costuma-se distinguir duas fases da gagueira: a primeira e a secundária.
Na fase primeira, a criança apresenta dificuldades de fala, e manifesta bloqueios, hesitações e repetições de sons ou palavras. Ocorre, na maioria das vezes, com crianças de 2 a 4 anos de idade, pois todas elas experimentam um certo grau de não fluência, já que estão aprendendo a falar. Elas gaguejam, mas não sentem os sintomas secundária da gagueira.
As medidas que devem ser tomadas por pais, professores e outros adultos, nessa fase da gagueira, devem ser indireta, sem manifestar preocupação com desvio em si. Deve-se procurar manter a criança em boas condições físicas, proporcionando-lhe uma agradável e repousante atmosfera familiar, com bons modelos de fala. É importante também tentar desenvolver nela sentimentos de adequação e autoconfiança, ressaltando suas aptidões positivas e minimizando as suas deficiências.

As crianças com não – influências devem ser reconhecidas, mas aceitas como normais. Deve-se evitar dar-lhe a impressão de que as outras pessoas ficam preocupadas ou ansiosas por causa disso. E, mais do que tudo, não se pode humilhar, criticar ou castigar a criança quando ela gagueja. Movimentando perto de cem músculos para pronunciar uma palavra, ela não toma consciência da origem do erro. Sendo ridicularizada, fica nervosa e gagueja mais ainda. Nos primeiros anos, pode-se tentar corrigir a gagueira obedecendo-se as seguintes normas:
1)não criticar a criança por sua dificuldade
2)conversar mais baixo e mais devagar com ela
3)matriculá-la em uma escola de educação infantil, para que ela possa jogar, pintar etc.

Na fase secundária, o individuo já foi classificado por si mesmo e por outros como gago. Sente ansiedade ao falar certas palavras e teme gaguejar, temor que aumenta ainda mais a possibilidade de que ele gagueje. Nesta fase é necessário ensinar ao gago técnicas de respiração para controle do ritmo da fala e a articulação de frases. O tratamento destinado a possibilitar a pessoa que fale sem gaguejar consiste em ensiná-la a articular apropriadamente as sílabas e palavras e a construir gradualmente a sua fluência. O procedimento corretivo tem a finalidade de desenvolver a tolerância da gagueira, a desssensibilização emocional, a redução da ansiedade e a fala controlada.

Acreditamos que a gagueira é mais um problema emocional do que de fala, então seu tratamento é orientado mais no sentido da descoberta de conflito que gerou. Normalmente a criança gaga é sensível, emotiva e insegura, necessitando de uma orientação especial no seu relacionamento.

Como tratar uma criança com gagueira:

Os métodos de tratamento da gagueira variam desde os exercícios respiratórios até a psicoterapia e a hipnose. No entanto, o objetivo de todos é comum: fazer com que a pessoa fale de modo aceitável, em qualquer situação em que o ato de se comunicar seja necessário.
O papel dos pais é muito importante, mesmo depois que entra na escola, pois nesse período ela ainda é fortemente identificada no lar. Sua ambientação escolar, porém dependerá muito da atitude do professor, que servirá de modelo para as reações de outras crianças.

Na classe, há várias formas de lidar com um aluno gago:

a) Aceitando-o. A criança gaga costuma ser rejeitada e precisa de ajuda para adquirir confiança em si.
b )Manter uma postura objetiva em relação a sua gagueira
c) Elimine dificuldades, interrupções e impaciência da criança que apresenta o problema e encoraje as outras crianças a agirem da mesma forma.
d) Crie um ambiente calmo e sereno. Evite tensões, elimine falas rápidas, ordens em voz alta e disciplina militar.
e) Promova a autoconfiança da criança, dando ênfase as suas habilidades.
f) Encoraje a criança a participar de discussões em classe e jogos que não envolvam situações emocionais.
g) Dê a criança uma chance para liderar, em atividades recreativas.
h) Procure dar-lhe atividades de classe que não exijam linguagem oral.
i) Encoraje a criança com gagueira a falar, mas não o force.
j) Não o ajude quando estiver falando, não fale mesmo se souber o que ele vai dizer.
k) Crie oportunidade para ele, fale em situações nas quais provavelmente terá sucesso como dramatização ou leitura em coro.
l) Questione-o quando tiver certeza de que ele sabe a resposta, para diminuir seu medo de falar.
m) Chame o mínimo de atenção possível para a gagueira de uma criança que ainda não desenvolveu sintomas secundários.
n) Ajuda-o a desenvolver um atitude objetiva.

A família e os amigos devem estar atentos aos sinais que o indivíduo com gagueira possa dar, além de identificar situações de discriminação ou agressão. Caso notem mudanças significativas no comportamento do portador do distúrbio, o indicado é procurar conversar sobre o assunto, oferecer apoio e encaminhar ao fonoaudiólogo.

Dicas para lidar com a situação

Como muitas pessoas ainda não sabem lidar com a situação, algumas acabam discriminando, rindo e fazendo piadas com as pessoas com gagueira. Nesses casos, é importante procurar tratamento psicológico. A partir da psicoterapia, o especialista pode auxiliar nas questões pessoais e sociais que decorrem da gagueira, possibilitando a conquista de melhor qualidade de vida.
Ter paciência, agir da maneira mais natural possível e respeitar o tempo do próximo são estratégias importantes e que devem ser adotadas por todos que convivem com uma pessoa com distúrbio na fala. É preciso compreendê-los e apoiá-los. O gago sofre de um transtorno na fala e não escolhe ser assim. Ao tentar estabelecer o diálogo, muitos tentam adivinhar o que o outro quer falar, isso não deve ser feito. O ideal é esperar que a frase seja completada pela própria pessoa. Outra dica é evitar perguntas genéricas.
Outro aspecto que deve ser trabalhado é a aceitação da gagueira pelo portador do distúrbio. Entender que a gagueira tem tratamento é muito importante. Mas, com certeza, aceitar é o primeiro passo. É aceitando que se passa a conhecer melhor o distúrbio e perceber que a gagueira é mais comum do que se imagina.

Algumas técnicas podem ser realizadas em casa para aperfeiçoar o tratamento. Falar de frente para o espelho, tentar organizar o pensamento antes se expressar e trabalhar o poder de síntese são algumas dicas que podem facilitar a comunicação.

Outras dicas para o tratamento da gagueira

A gagueira pode ser detectada ainda na infância. Por isso, é importante que os pais estejam atentos às seguintes dicas:
1. Veja se a criança sente muita dificuldade para articular determinadas palavras ou frases;
2. Preste atenção em sinais como tensão ou esforço ao falar, repetições mais rápidas e irregulares com finalizações repentinas;
3. Observe se a criança apresenta dificuldade de relacionamento com os amigos, se evita, sente medo ou frustração ao falar ou se responde apenas com movimentos de cabeça;
4. Observe também há quanto tempo a criança apresenta disfluências e se existem outras pessoas na família que também apresentam dificuldades de fala;
5. Se perceber que a criança apresenta alguma dificuldade de fala, ajude-a a entender suas dificuldades para melhor lidar com as situações, de forma a obter mais segurança e diminuir a ansiedade
6. Procure um fonoaudiólogo
7. O tratamento para aliviar e curar a gagueira só deve ser feito com acompanhamento de um fonoaudiólogo.

Estratégias que não cura a gagueira

São muitos os mitos sobre as estratégias para curar a gagueira. Dar sustos, bater com uma colher de pau na cabeça toda sexta-feira e até colocar um pinto para piar na boca da pessoa que gagueja são algumas das técnicas que, porém essas técnicas não passam de crendices populares.

Valdivino AlvesValdivino Alves é Pedagogo, Psicopedagogo, Matemático, Contador, Consultor Tributário, Professor e Escritor. Autor de projetos e livros na área de educação, pesquisador em comportamento da aprendizagem e desenvolvimento da inteligência. Possui graduação em Pedagogia, Matemática, Ciências Contábeis e Direito. Pós-graduado em Educação Matemática Comparada, Pós-graduado em Piscopedagogia Clínica e Institucional e Mestrado em Psicologia Organizacional. Escreve sobre, educação, comportamento e Direito. 
Site: www.valdivinoalves.com.br E-mail: prof.valdivinoalves@bol.com.br

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UM Comentário

  • Luiz Barbosa disse:

    Excelente artigo. Realmente aqui no nordeste o pessoal tem mania de jogar água fria, dá susto para parar de gagueijar. Agora entendi mesmo que é apenas uma crendice e não cura mesmo..

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