Experiência no sertão sensibiliza voluntários, de novatos a veteranos

Equipe do centro cirúrgico do projeto "Voluntários do Sertão" foi composta por 32 profissionais de diferentes áreas (Foto: Adriano Oliveira/G1)

Equipe do centro cirúrgico do projeto “Voluntários do Sertão” foi composta por 32 profissionais de diferentes áreas (Foto: Adriano Oliveira/G1)

A vontade de ajudar sem esperar receber nada em troca define a atitude de Rogério Martins Azevedo. Em abril, aos 46 anos, o dentista se deparou com um gesto experimentado ainda na época da faculdade, quando cursava o último ano de odontologia – a solidariedade.

O ano era 1993, e o jovem Azevedo viajou até o Mato Grosso do Sul, onde permaneceu uma semana como voluntário em uma aldeia indígena. A experiência, a primeira da vida nesse aspecto, marcou a trajetória do então estudante, que entendeu naquele momento que poderia fazer mais, do jeito dele, pelo mundo. “Aquilo ficou gravado dentro de mim. Eu queria voltar a fazer esse tipo de trabalho depois que eu estivesse mais qualificado.”

Passados 22 anos, Azevedo se viu diante da tão almejada oportunidade. Encheu-se de coragem e se inscreveu no projeto “Voluntários do Sertão”, organização com sede em Ribeirão Preto (SP), às vésperas do fim do prazo. Foi recebido de braços abertos pelo grupo.

Viajar até Condeúba, no sertão da Bahia, para o mutirão de atendimentos de saúde de graça, exigiu que Azevedo fechasse por uma semana a agenda da clínica particular onde atua, suspendesse as aulas na universidade em que é professor, e deixasse a esposa e o filho de 9 anos. Nada o impediria de levar a sua contribuição a uma população carente em diferentes sentidos. “Era uma coisa que eu sonhava fazer há muito tempo e que quero continuar fazendo.”

Desde que a organização foi instituída, em 2000, 3,5 mil profissionais já doaram seu tempo para levar mais qualidade de vida aos sertanejos baianos. O idealizador e presidente do projeto, Doreedson Ribeiro Pereira, o Dorinho, afirma que os voluntários são a peça-chave de toda a estrutura, que envolve ainda empresas parceiras e outras formas de contribuição. Em 15 anos, 203 mil atendimentos foram realizados em sete cidades.

“Ser ‘Voluntário do Sertão’ é ajudar o próximo, estender a mão, transformar vidas e olhar sempre pelas pessoas mais necessitadas. Eu quero que outras pessoas conheçam o nosso projeto e vejam que é possível fazer, basta ter vontade. A gente quer se tornar modelo, para que mais gente possa fazer, possa multiplicar essa ideia”, diz Dorinho.

Azevedo é um dos que se tornarão multiplicadores. Negar a saudade da família, que entendeu o propósito e o incentivou na jornada, e a ausência da rotina era impossível, mas o que importava para ele, naquele momento, era usar o conhecimento e o talento para transformar a vida de quem mais precisava.

“O grande desafio é tentar resolver de forma plena aquilo que o tempo e a estrutura possibilitam. Ninguém ficou preocupado em concorrer entre si. A questão é: quanto mais gente fosse atendida e saísse satisfeito com o trabalho, melhor. Muitas pessoas que passaram por nossas cadeiras poderiam estar na mesma situação que a gente, mas não tiveram oportunidade. Por isso, elas devem ser tratadas de igual para igual. Elas merecem uma vida melhor”, diz.

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Rogério Azevedo conta que conseguiu uma vaga para participar do mutirão na última semana de inscrições (Foto: Adriano Oliveira/G1)

Seguindo os passos de Azevedo encontrava-se o estudante de medicina Emanuel Bezerra De Lavor, de 22 anos. O jovem voluntário de primeira viagem levou para casa uma experiência adquirida por poucos – muitas pessoas até mesmo mais velhas que ele talvez nunca tenham essa vivência.

Lavor deixou os estudos, os amigos da faculdade, a namorada, a família e durante uma semana conheceu de perto a realidade do sertão baiano. Mais do que isso, dedicou seu tempo para tentar amenizar o sofrimento dos moradores da região, castigada pela seca.

Ele foi um dos dez universitários brasileiros escolhidos para integrar a caravana dos “Voluntários do Sertão”. Ao lado de 186 profissionais de Ribeirão Preto, o jovem diz ter vivido uma das experiências mais marcantes de sua vida. “É impossível ser a mesma pessoa depois de ver tudo o que eu vi”, diz.

Baiano de nascença, Lavor sempre morou em Salvador, onde a realidade é bem diferente do sertão. Depois, a família se mudou para o interior do Ceará, até finalmente chegar a Ribeirão Preto, onde ele cursa o quarto ano de medicina em uma faculdade particular. Diante de tanta gente precisando de ajuda na terra onde cresceu, o estudante disse que é impossível não fazer uma reflexão. “Todo mundo dizia que esse trabalho seria uma experiência única e eu confirmei isso”, afirma.

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Estudante de medicina, Emanuel participou do “Voluntários do Sertão” pela 1ª vez (Foto: Adriano Oliveira/G1)

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“A esperança em um país melhor e menos desigual.” Embora a declaração pareça ter sido ensaiada à exaustão pelos voluntários, o desejo é uma realidade dos voluntários que estiveram em Condeúba. E, apesar do cansaço, o sorriso no rosto de cada um deles não negava a alegria que sentiam ao reverter um caso grave ou confortar um paciente com uma palavra amiga. É isso que os leva a se aventurar, ano após ano, pelo sertão baiano.

Integrante do projeto desde 2008, o pediatra Adalberto Moreira de Souza relembra que logo no primeiro mutirão em que participou foi designado a atender pacientes na zona rural. Em um único dia, consultou cerca de 90 crianças. Não foram raras as vezes em que o expediente começou às 8h e se estendeu até às 22h.

“Os pacientes eram extremamente carentes, desnutridos, anêmicos, era um mar de gente, uma fila enorme. Não tinha outro jeito”, afirma o pediatra, destacando que com o passar das edições, o processo de triagem auxiliou o trabalho. Mesmo assim, ele diz que ainda se depara com situações incomuns. “Qualquer pediatra olha o ouvido de uma criança. Aqui, elas ficam assustadas e eu preciso explicar que não é injeção”, brinca.

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O pediatra Adalberto Souza participa há oito anos dos mutirões de atendimento no sertão da Bahia (Foto: Adriano Oliveira/G1)

O entusiasmo que Souza sente com a oportunidade de ajudar esses pacientes é compartilhado pela mulher dele, a ginecologista Miriam Moreira de Souza. Ela decidiu acompanhar o pediatra já na primeira expedição. Não parou mais.

Miriam afirma que da Bahia não leva dinheiro, reconhecimento e muito menos fama. “Eles são agradecidos por uma coisa que, para nós, é pouco. A gente sempre precisa muito menos do que a gente quer, essa é a lição que eu levo sempre.”

Assim como os companheiros, o cirurgião carioca Rolland Duarte de Souza, de 42 anos, que há quatro participa do projeto, também deixa a vida pessoal de lado por sete dias para se dedicar integralmente aos pacientes do sertão. Não se arrepende.

“Essa é a semana do ano em que eu mais me sinto médico. Eu participo para servir e volto para casa com a sensação de que eu é que fui servido. Eu volto exausto, mas sentindo que quem ganhou com o projeto fui eu.”

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Especialistas compartilham a alegria de levar esperança à população de Condeúba (Foto: Adriano Oliveira/G1)

Fonte: Adriano Oliveira G1 Ribeirão e Franca

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UM Comentário

  • neuza disse:

    obrigado avcs todos que deus abençoi ricamente a cada um de vcs que deus de em dobro a cada um que com tanta dedicação amor ajudaram tantas pessoas aqui e a gente via tanta alegria e amor no semblante de cada um de vcs que deus nunca deixe faltar nada em suas vidas especialmente o amor que cada um dedica au ser humano.

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