Condeúba: Feira de artesanato no Alegre reúne histórias com arte e arte com histórias

Por: Dermeval Filho

A 2ª Feira de Economia Criativa reuniu diversos trabalhos, além de revelar os talentos culturais da região

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Maria Rodrigues de Novaes. Fotos: Dermeval Filho – Portal da Transparência | Governo de Condeúba

Há cerca de três anos, Maria Rodrigues de Novaes, de 64 anos, relutava em sair de casa. Por causa da timidez e um início de depressão não via razões para expor seus trabalhos, “não saía de casa, não queria conversa”, conta a artesã, moradora do Distrito do Alegre. “Aprendi minha arte sozinha, muitas vezes aprendia pela TV, mas nunca fiz curso ou herdei de alguém o dom”. Hoje, com o apoio das minhas amigas artesãs, fico à vontade para mostrar o que sei e fico muito feliz com os elogios, esse trabalho me ajudou muito”.

Essa e outras histórias fizeram parte da 2ª feira de Economia Criativa, realizada pela Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Alegre. De acordo com a idealizadora do projeto, a professora e historiadora, Joandina Maria de Carvalho, a iniciativa surgiu a partir de reuniões entre membros da comunidade com o objetivo de uma maior valorização dos artistas locais. E foi o que se viu no último sábado, 20, na tradicional feira do distrito. Em meio ao burburinho já comum, os artistas locais esbanjavam alegria, orgulho e satisfação por ver o belo trabalho exposto e reconhecido.

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Luzia Madalena de Jesus.

OLÊ MULHER RENDEIRA

Assim também foi com Luzia Madalena de Jesus, 85 anos. Ver dona Luzia trançando as birras, é algo que impressiona pela habilidade, a técnica e a rapidez com que embaralha aquele tanto de afiamento. Melhor não querer decifrar! “Hoje parece fácil, mas foi muito difícil aprender”, conta dona Luzia rendeira, herdeira de uma arte quase esquecida, enquanto faz um bico de renda, um entre tantos talentos que aprendeu ainda criança, mas que hoje, ela lamenta o fato de não ter quem se interesse em aprender e manter viva uma arte que encanta não só pelo belo resultado, mas também, pelo processo engenhoso e difícil de decifrar.

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Manoel Neres de Sousa.

CARPINTEIRO IGUAL A SÃO JOSÉ

Manoel Neres de Sousa diz logo de entrada – “minha raiz veio da carpintaria. E vou morrer assim. Já avisei minha mulher que Deus livre e guarde, se um dia eu ficar numa cadeira ou acamado, quero minhas ferramentas perto de mim, que é para eu não parar de fazer o que mais amo”, conclui o agricultor de 54 anos, enquanto divide a atenção com o grande número de pessoas que estavam encantadas com o seu trabalho, rico em detalhes e marcado pela perfeição. Tudo o que envolve a agricultura e a pecuária é retratado pelo sr. Manoel Neres.  Entre arados, engenhos de cana, carros de boi e tantas outras miniaturas perfeitas, ele pega uma delas com as mãos e lembra o que era um carro pipa de antigamente”. Não existia carro pipa, a gente armazenava água nessa caixa de madeira montada em cima do carro e ia para o rio enchê-la. Lamento que os mais jovens não se interessam por essa arte, só pensam em celular e internet”. Sr. Manoel se diz realizado naquilo que faz, “faço com amor e carinho, sou feliz com minha arte”, conclui com orgulho, enquanto busca no fundo de uma das caixas, um “souvenir”, uma mini foice, perfeita, diga-se de passagem, para me presentear.

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Aldite Rodrigues de Moraes.

NATUREZA EM AÇÃO

Casca e semente, coquinho, casca de coco, “isso dá um trabalho! É preciso catar tudo no mato, sem saber se vai prestar”. Assim relata Aldite Rodrigues de Moraes, enquanto faz a exposição de sua arte. Entre tecidos e bordados, sempre com o uso de sementes, madeira e cascas, Aldite, uma das idealizadoras da feira, sonha em ver montada uma associação própria para os artesãos. “Assim teríamos mais força e representação”.

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Jovino dos Santos.

FELIZ COINCIDÊNCIA
Quando vi o casal, Jovino dos Santos e dona Hortência Maria dos Santos, com suas peneiras de palha trançadas, fui em direção para um breve bate papo, pois ali estava um pouco da minha infância, afinal, “seu Ioiô”, meu avô, vivia pelas feiras da região vendendo, peneiras, chapéus de palha, esteiras e outros. Entre uma prosa e outra, sr. Jovino explicava o processo de fabricação, a sua parcela de contribuição, já que era dona Hortência a verdadeira artista. Resolvi contar como aquele tipo de arte marcou minha infância, falei da minha origem, do meu avô. Quando soube quem eu era, seu Jovino, emocionado, me disse – “Seu Ioiô foi um dos meus melhores fregueses, comprou muita peneira em minha mão”. Aí a emoção mudou de lado.

 

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Vitalina Sousa Reis.

ENTRE CROCHÊS E BARBANTES

Vitalina Sousa Reis, (Vita) é mais uma artesã que trabalha desde criança. Entre jogo de banheiro, tapete de porta, toalhas de mesa espalhados pelo expositor, dona Vita conta que de tudo ela aproveita para também compor sua arte. Desde retalhos, linha e tecidos, faz questão de explicar os traços presentes nos produtos. “Aprendi muita coisa com minha amiga de infância, Jesuína, atual vice-prefeita. Ela sabia bem mais, insisti que me ensinasse, assim aprendi”, lembrando parte da infância vivida no Distrito do Alegre.

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Ângela Maria da Cruz e Joandina Maria de Carvalho.

Foram tantas histórias prazerosas de ouvir. Como não lembrar da simpatia de Eledite da Silva Ribeiro (dona Leda), orgulhosa em expor seus bordados de fita, ou mesmo os importantes resgates históricos da região reunidos no livro da professora Joandina Maria de Carvalho, “Um Oposicionista na Política Baiana”. O livro conta em vários capítulos, a trajetória de vida e luta do Sindicalista e Deputado Estadual, Paulo Jackson Vilas boas. A 2ª Feira de Economia Criativa no Alegre conta histórias, revela talentos até então desconhecidos e mostra a importância de uma cultura viva, presente no dia a dia de um povo.

Fonte: condeuba.ba.gov.br

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UM Comentário

  • silvio disse:

    Parabéns para quem fez esta matéria essa galera merece destaque

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