Houve um tempo que o Sr. João da Cruz era o homem mais rico de Condeúba e quem mandava na cidade eram Bébé, Santo e Amerquinho, na época, solteiros.
A hoje farmácia de Pelé, era um bar comandado pelos três irmãos, onde eu tomei a minha primeira bebida gelada, um copo de K-SUCO de morando, gelado numa geladeira a gás. Êta coisa gostosa! Chegou a doer na testa de tanto gelado.
Santo comandava um time de futebol que fazia apresentações nas redondezas, onde ele era jogador, técnico, capitão, dono do time e principal financiador das despesas é aí que nossa história de hoje começa.
Santo marcou um jogo com um time arqui-rival da cidade de Cordeiros, em Cordeiros, rivalidade acirrada por uma derrota da Seleção Cordeirense no domingo anterior, para a Seleção de Condeúba o que botou fogo no jogo.
Tanto em Cordeiros quanto em Condeúba, só se falava nesse jogo, as duas equipes chegavam a treinar pela madrugada e à tarde, com a finalidade de matar a pau no domingo pela manhã.
Santo não se continha de tanta ansiedade, chegou até a ir numa missa, para pedir proteção, acabou cochilando no momento do sermão e quando Dom Homero lia o texto bíblico em que dizia: “Santo, santo, santo…”, referindo-se ao Filho de Deus, o nosso Santo, filho do Sr. João da Cruz, assustou e gritou: “Quié Padre! Qui foi que eu fiz?”
Dom Homero sorriu juntamente com toda a igreja.
Mas Santo que é Santo não perde a fé e Santo continuou trabalhando para a vitória de sua equipe e cuidando de todos os detalhes que cercavam o jogo e foi aí que ele extrapolou.
Sábado à noite se encontrou com o craque do time, Morceguinho e acertaram que na manhã de domingo, logo no raiar do dia, ele passaria na casa de Morcego, para que juntos apreciassem uma surpresa que ele teria para o seu principal jogador.
Domingo, o dia do grande jogo, logo no começo da manhã, Santo acorda Morceguinho e o leva para o curral da família, onde criavam gado, nas imediações da Rua do Caetité. Lá chegando, Santo abriu um saco de padaria, tirou uma lata de TODDY, colocou três colheradas do pó escuro na vasilha de um litro e começa a tirar o leite quentinho, diretamente do peito da vaca, para o vaso e depois de mechido e ainda quente, Santo entrega para o seu craque, que com mos olhos petrificados e com a boca já cheia d’água, toma a primeira copada sem respirar, chegando a lamber a língua.
Se você nunca experimentou esta iguaria, não sabe o que tá perdendo. Leite de vaca tirado na hora com Toddy, é o bicho!
– “Qué mais?” – Pergunta Santo pro Morceguinho.
– “Ô! Só se for agora.” – Respondeu o menino humilde, acostumado com café com farinha nas manhãs do seu dia-a-dia.
Segunda copada e nesta ele pôde sentir o verdadeiro sabor da bebida Láctea, mais calmo ele tomou até a barriga doer de cheia.
– “Já chega Santo. Tô satisfeito. Hoje vou correr igual a um maluco lá no jogo.
Tô me sentido forte igual a um touro. Que negócio bom esse leite marrom!”
Do curral, os dois garotos foram arrumar os apetrechos para a viagem, a hora da saída pra Cordeiros estava chegando.
O campo em Cordeiros ficava no meio do mato, logo depois do cemitério.
Os times chegam, se trocam e às 09h00min, tá tudo arrumado para o inicio da partida, juiz, bandeirinhas, torcida, charanga e vai ser dada a saída para o jogo tão esperado
e é aí que algo estranho acontece:
O Juiz do jogo chama o capitão Santo e comunica que o time dele tá só com dez jogadores.
– “Num tô entendendo, só com dez, quem tá faltando?”
Inacreditável, mas tá faltando justamente o ídolo, o camisa 10, o bom, o craque Morceguinho e aí foi um corre-corre – Cadê Morcego! Cadê Morcego!
Depois de tantos gritos, eis que surge de dentro de uma das moitas em volta do campo de várzea, o garoto, negro na cor original, mas branco de tanto cagar, suado de tanto esforço desprendido, quase se arrastando de tanta fraqueza, mais fraco do que água de chuchu, calção desamarrado e cabeça baixa…
– “Tô aqui, pode começar o jogo.”
Santo não acredita no que está vendo! Seu craque foi nocauteado pelo golpe do leite com toddy e ele, Santo, era o responsável…
O leite com toddy fez efeito, desarrumou o estomago do nosso craque, que de 15 em 15 minutos corria pras moitas pra botar as contasem dia. Erauma corrida atrás da bola e outra pro mato e como desgraça pouca é bobagem, numa dessas corridas, na hora da limpeza, apressado para voltar pro jogo, o pobre do Morceguinho limpou o “forevis”, já vermelho de tanto uso, com uma folha de urtiga.
Aíaíaíaíaí! Haja sofrimento!
Morcego voltou pro campo elétrico, não pelo leite tomado, pois já tinha saído todo, mas pelo efeito da urtiga, foi quando Né de Maria de Ciba lançou uma bola em profundidade pro Morcego, que vinha voltando do mato. Morcego deu um toque genial aplicando um drible da vaca no seu marcador e com uma velocidade de quem tá movido a gasolina de avião, destampou na frente do goleiro adversário e com toda raiva de quem erra a folha na hora da limpeza do seu mais precioso buraco, enfia um chute estufando as redes adversárias…
É gol do time de Santo!
Que no momento perdia por 1 X 0.
Gol salvador. Se o time de Santo tivesse perdido por culpa de Morcego, ele com certeza teria voltado a pé de Cordeiros para Condeúba, fraco como ele estava, talvez estivesse na estrada até hoje.
Autor: Décio Pereira – E-mail: deciossa@yahoo.com.br
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5 Comentários
Rapaz, mais um sensacional caso de Decio. Tá perdendo tempo sendo bancário, jpa estaria rico escrevendo. Nessa cidade acontece muitos causos.
Será que não tem nenhum, em q Décio figure como protagonista?
Uma correçao, o sermao nao era proferido por D.Homero, e sim pelo holandes Pe.Aquino.
Esse foi bom!!!
Caro amigo Décio,
Quando fiz estágio no Colégio Alcides Cordeiros, na minha graduação em Letras, tive a oportunidade de trabalhar vários causos seu, inclusive este de Santo. Achei interessante a exploração dos causos e o aproveitamento foi sensacional por parte dos alunos e meus objetivos foram alcançados. Parabéns! Abraços do amigo César
César,
Fico devesramente lisonjeado e agradecido com o seu elogio. Não sabia sobre o assunto e é um privilégio muito grande ter participado, ainda que indiretamente e com pouquissima expressão de algo tão grandioso, como a sua graduação.
Um forte e fraterno abraço,
Décio