Da Série Condeúba 151 Anos.
Rio Gavião, rio Gavião!
E agora, onde armo a minha rede?
A areia está molhada,
A terra está arada,
O mato está verde,
Mas tu continuas morrendo de sede.
Rio Gavião, rio Gavião!
Tu que nasces em Jacaraci,
Em Irundiara, espalha, mas não pára.
No São Domingos, pingos, mas não se cala.
Uma tapagem aqui, um sangradouro ali
E vem espalhando vida por onde passa, até aqui.
Condeúba, Oh! Condeúba!
Tua gratidão, como é?
Não vês que o velho rio morre à tua porta?
E que se isso acontecer parte de ti também será morta.
Ah! Se bastasse a minha fé,
Tu, meu querido velho Gavião, não se resumiria à barragem de Anagé.
Rio Gavião, rio Gavião!
A dor de te ver assim esfola o meu peito,
A morte bate à tua porta,
Se brota água a barragem corta,
Ontem, um denso leito,
Hoje, um simples córrego estreito.
Rio Gavião, rio Gavião!
Do pulo de mar da galha do pé de jatobá,
Do pé de murungu, da passagem sobre as pontes,
Da invasão da cidade aos montes,
Do baba na areia no fim de tarde a rolar,
Da piaba, da traía, do bagre, do piau pra se pescar.
Do banho após o baba no campo de futebol,
Lá no buracão, pelados, curtindo o sol.
Dando risadas, batendo bronha, fazendo barulho
Inocência lavada mergulho a mergulho
E enquanto Nenega fazia tijolinho
Nego queimava caieira na olaria do vizinho.
Rio Gavião, rio Gavião,
De espalhar vida em tuas margens,
De produzir verde nas plantações,
De dar felicidade aos corações,
Mas de receber em troca como miragens,
A morte anunciada em forma de barragens.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando olho o teu rastro,
Quando não vejo o verde brotar no capim no pasto.
A foto na parede da enchente dos anos sessenta,
Aquele mar de águas, feias, destruidoras, barrentas,
Mas era teu jeito de se fazer presente,
Naquela época já pedia cuidados, por todo o leito, desde a nascente.
Mas o homem, incompetente,
Preferiu te prender, evitando a corrente.
A lei do menor esforço, coisa de incompetente,
O egoísmo em primeiro lugar, sempre na frente
O meu primeiro, depois se sobrar, o de toda gente
É a humanidade se fingindo de decente.
Rio Gavião, rio Gavião!
Que tanto lavou minha alma na infância, quando eras bonito.
Tanto bem me fez por toda vida, hora após hora,
E o que posso fazer por ti agora?
Só tenho o ecoar do meu grito,
Dizendo que por ti vivo aflito.
Sei que estás por um fio,
Ontem águas doces, límpidas, fartas, com força de mar bravio,
Hoje sujo, fraco, sem vida, esqueleto ainda vivo de um rio.
Que Deus tenha compaixão do ti e não te deixes de lado,
Pois se não tens nenhuma importância pros governantes do município, do estado,
Saiba que são de ti as águas que banham o meu passado.
E enquanto a história também não te esquece,
Enquanto não morres, só padece,
Fica a esperança, que dia após dia cresce:
Haverá de aparecer alguém no poder que verá que merece,
O devido cuidado, pra ser revigorado, enquanto pra sempre não adormece.
Gavião, meu rio Gavião! Está é a minha singela prece…
…de coração.
Autor: Décio Pereira
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5 Comentários
Otimo texto Décio, parabéns!!
Realmente o Rio Gavião pede socorro a tempos.
reamente este velho gaviao merese maes atencao de toda os, pois fico triste de ve o rio que tantas veses pesque,tomei banhos,briquei e matava a sede de muitos, assm morrendo aus poucos e de corta o corasao de dor…;
“O comentário não representa a opinião do site, a responsabilidade é do autor da mensagem”
Décio, vc é fera! tem o dom de escrever.
“O comentário não representa a opinião do site, a responsabilidade é do autor da mensagem”
PARABÉNS DÉCIO!!! NESTE TEXTO VOCE EXPRESSA TODO SENTIMENTO DE UMA GERAÇÃO QUE TEVE OPORTUNIDADE DE CURTIR TODAS AS BENESSES DESSE MARAVILHOSO RIO QUE AGORA AGONIZA.
QUE O PRÓXIMO ADMINISTRADOR OLHE PRA ELE COM OS MESMOS SENTIMENTOS.
“O comentário não representa a opinião do site, a responsabilidade é do autor da mensagem”
que legal ,ainda existe em Condeúba gente com sensibilidade ecológica.estou longe da minha terra natal, mas jamais esqueço deste rio que fez parte da minha infância e dos meus pais;joão V ICENTE DE SOUSA e ENI Pereira Soares.Por favor resgate este rio