Que tal um final de ano sem tantas cobranças? Os planos mais importantes dizem respeito a nós mesmos: nossa forma de nos cuidarmos e respeitarmos.
As festas de fim de ano não representam necessariamente apenas alegria, para muitas pessoas torna-se um período de muita angustia e muita ansiedade, pois é o momento quando estas pessoas sentem que tem a “obrigação” de serem felizes, quando na realidade não consideram que tem motivos para isso. Inunda um sentimento de que se ela não estiver tão alegre quanto as outras pessoas então é sinal de que há algo errado com ela. Com o final do ano se aproximando algumas pessoas começam a demonstrar sentimentos negativos em relação a essas datas, como angústia, tristeza profunda e sensações de desamparo. Esses sentimentos negativos caminham em direção oposta aos objetivos das festas do Natal e Ano Novo, que propõem a comemoração do que foi bom e o que poderá vir a ser melhor.
Muitas pessoas não entram no “espírito natalino”, não sentem a mesma a alegria que percebem nas outras pessoas. Este sentimento de falta de entrosamento com o que seria esperado é mais ou menos o mesmo que aparece em algumas pessoas na sexta feira à noite, “Vou pra casa, enquanto tem tanta gente se divertindo, eu estou aqui sozinho!”.
O mesmo acontece com a época de natal, parece que existe um “complexo de período perfeito” onde se é obrigado a ser feliz… Mas qualquer obrigação oprime. No natal são comuns eventos coletivos que visem à comunhão, algumas pessoas podem sentir que não tem nada a ver com isso, já que a proposta é instituída de fora, ou seja, construída socialmente, e isso pode ser visto como negativo, relacionado com sentimentos de solidão, por exemplo.
Esse é um período que as pessoas esperam ansiosamente e ao mesmo tempo temem, sentem depressão, alguns passam por um verdadeiro terror fazendo contagem regressiva esperando a hora disso tudo acabar e poder voltar a rotina normal. Tudo devido à ansiedade e medo sobre o que vai acontecer, ou o que não vai acontecer, pois este é o ponto principal: a frustração de não acontecer nada, não receber amigos, não receber presentes, não se perceber importante pra ninguém.
Esta depressão de fim de ano pode ser canalizada de forma positiva e utilizada para que se reveja o que esta pessoa está fazendo de sua vida. Será que ela não passou o ano todo desperdiçando oportunidades para criar laços de amizade que valerão a pena ser comemorados no natal? Não será este o grande momento para aprender a lidar de forma diferente com a própria vida?
Com a chegada do final de ano somos tomados por um sentimento de urgência – terminar os projetos iniciados, fazer todas as pequenas coisas que deixamos de lado o ano todo e planejar o próximo ano – e esse sentimento já nos encontra desgastados pelo cansaço e estresse acumulados em um ano de trabalho. Nesse clima, é natural que as nossas percepções nem sempre sejam as mais acuradas, e assim, o que deixamos em evidência é o que não conseguimos concretizar, ou seja, a falta e o vazio dos projetos desprezados, não iniciados ou simplesmente que não deram certo.
Esquecemos-nos e deixamos de valorizar todas as pequenas conquistas, alegrias e, por que não, tristezas, que nos fizeram repensar a nossa vida e que, muitas vezes, provocaram mudanças significativas. Talvez a tristeza que tome conta da maioria das pessoas nas festas de final de ano, não seja nada mais do que a melancolia característica do final de uma etapa, aliado a um julgamento severo de nossas “falhas” – dos nossos projetos não realizados.
No início do ano, é natural a reflexão e uma espécie de “retrospectiva” sobre as realizações e frustrações tanto do passado quanto em relação aos planos do novo ano. Nesse caso, quando o balanço indicar que o planejado não foi alcançado, há uma tendência de a pessoa ser dominada pela angústia, por falta de perspectiva, como quando o prazo para qualquer realização se aproxima do fim. Não ter planos para o ano seguinte é semelhante a não ter futuro, e ficar na mesma situação do ano anterior também traz sentimentos de ficar “parado no tempo”.
A sensação de estar continuamente iniciando e terminando é intrínseco ao ser humano, mas é natural, portanto que cada um vivencie as passagens de acordo com a sua história pessoal; pessoas que enfrentam ambiente de instabilidade tendem em situações novas a viver angústias que podem se manifestar de formas diversas como: pânico, depressão, defesas obsessivas etc. Faz parte do imaginário dos seres humanos acreditar também que deve satisfazer o desejo do outro. Isso significa que temos uma espécie de cobrador interno que vai avaliar, aprovar, condenar, impor, e quanto mais rígido for esse “cobrador” maior será a autocrítica.
Podemos então pensar diferente… se não concretizamos determinados planos, talvez não estivéssemos realmente preparados ou não aproveitaríamos como gostaríamos. Se deixamos de realizar por preguiça ou falta de vontade, repensemos se aquilo é algo a que queremos nos dedicar.
Enfim, nunca deveríamos deixar para trás as pequenas coisas que fizeram nossa vida mais iluminada – conversas com pessoas com quem temos afinidade, um presente, horas dedicadas a hobbies que adoramos, um trabalho bem realizado, uma aventura inesperada, ajudar alguém, surpreendermos-nos com nossas próprias atitudes e outras que só nós podemos saber.
Fico feliz que o ano novo esteja chegando. Uma data cultural que simboliza comemoração, família, alegria, recomeço, enfim. O presente, junto ao livro arbítrio com a capacidade de tomar decisões de acordo com as nossas vivências, emoções e raciocínio, é nossa melhor “arma” de conquista. Até que ponto seria saudável desperdiçá-la focando em um tempo ainda inexistente ou já vivido?
Então, que tal terminarmos 2013 com a sabedoria ampliada por nossas novas percepções? Que tal aproveitar o clima de final de ano e pensar no que você pode mudar para ter melhores consequências no ano que vem?
Muito se fala sobre o próximo ano, as possíveis mudanças, o que o tempo trará, mas pouco se fala sobre o que estamos fazendo com os nossos fenômenos e vivências de agora, desse exato momento.
Fica a reflexão, e o desejo de um feliz próspero ano novo para todos nós!
Valdivino Alves é Pedagogo, Psicopedagogo, Matemático, Contador, Consultor Tributário, Professor e Escritor. Autor de projetos e livros na área de educação, pesquisador em comportamento da aprendizagem e desenvolvimento da inteligência. Possui graduação em Pedagogia, Matemática, Ciências Contábeis e Direito. Pós-graduado em Educação Matemática Comparada, Pós-graduado em Piscopedagogia Clínica e Institucional e Mestrado em Psicologia Organizacional. Escreve sobre, educação, comportamento e Direito.
Site: www.valdivinoalves.com.br E-mail: prof.valdivinoalves@bol.com.br
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