Homenagem ao Padre Giuliano

padre giuliano missa de despedida

Padre Giuliano em sua missa de despedida ocorrida no último domingo (11/05). Foto: Reprodução/ Facebook – Adeildo Pereira

Pela segunda vez, recebo a incumbência de escrever-te uma mensagem. Tarefa tão difícil quanto à primeira. Naquela oportunidade era a congratulação de teus 40 anos de vida sacerdotal; nesta, uma saudosa despedida e um sincero agradecimento. A despedida esperamos que seja breve, pois já urge a tua vinda para uma cordial visita; e, o agradecimento já está expresso na faixa da Turma da Caminhada a qual diz assim: “Padre Giuliano, o senhor deixará uma marca viva de dedicação e carinho em nossas vidas. Não o esqueceremos jamais. Obrigado por existir”. Então, diante de tantas homenagens, poderia encerrar meu discurso por aqui. No entanto, resolvi, sem que eu seja psicólogo, fazer pequena análise do teu trabalho e da tua pessoa.

Nascido antes do “Concilium” (1947) e ordenado padre pós “Concilium” Vaticado II, (1971); é o que me faz relembrar aqui sucintamente o Decreto “Presbyterorum Ordinis” sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros nº 1148 ao tratar das tarefas dos sacerdotes de cujo texto extraímos pequeno excerto:

“O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo, palavra que se há de procurar com pleno direito nos lábios dos sacerdotes. Pois, como ninguém pode salva-se caso não creia primeiro, os presbíteros, na qualidade de cooperadores dos bispos, têm como primeira tarefa anunciar o Evangelho de Deus a todos, para constituírem e aumentarem o povo de Deus, executando o mandato do Senhor: “Ide ao mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Pois é pela palavra de salvação que no coração dos infiéis se desperta, e, no coração dos fiéis, se alimenta a fé, com ela se inicia e cresce a comunidade dos fiéis, segundo o dizer do Apóstolo: “A fé nasce da pregação, e da pregação a Palavra de Cristo é instrumento”. (1973, p. 445)

Imbuído desse ardor missionário, saíste da tua Itália rumo ao desconhecido. Vieste para o Nordeste Brasileiro, Diocese de Caetité na Bahia, Paróquia de Santo Antônio de Pádua na cidade de Condeúba.

Encontraste aqui uma paróquia tradicional de 163 anos de existência na qual grandes oradores sacros viveram e atuaram como vigários, a exemplo de Padre Belarmino Silvestre Torres, Cônego João Gualberto de Magalhães, Monsenhor Waldemar Moreira da Cunha e Dom Homero Leite Meira, somente para citar os mais antigos.

No entanto, tua missão presbiteral necessitava de ser cumprida nesta Terra de Santa Cruz, terras sagradas do sertão. “Alea jacta est” como dizia Julio César, a sorte estava lançada. E, como eu disse na primeira mensagem em 2011, começaste bem ao exortar os paroquianos com tua forte palavra que inquieta os passivos e queima a inércia dos inativos, chamando a atenção para a responsabilidade de cada cristão e o compromisso que se deva assumir perante o Senhor Jesus. Fizeste valer a conscientização dos fiéis em questões religiosas e filosóficas do bem interpretar, à luz evangélica, o verdadeiro sentido da Palavra divina. Se, em tuas homilias chocaste alguns de nós, é natural; Jesus fez o mesmo diante de fariseus e saduceus.

Pesando bem, esses nove anos de tua convivência conosco, ficará marcada por teu caráter e inconfundível personalidade de sadia moralidade, seriedade e responsabilidade em cuja atitude se evidencia o tripé: FÉ x CULTURA x VIDA. Eis aí o trio que te acompanha e te faz agir: a fé, a cultura e a vida, na busca constante da plenitude da pessoa humana.

Ensinaste ao povo que a verdadeira fé em Jesus Cristo, ultrapassa os ditames de um catolicismo tradicional, outrora apreendido, cujas ações consistiam em assistir a Missa Dominical, rezar o terço, freqüentar as novenas, beijar o Senhor Morto e comungar-se sem compromisso. Vai muito além, na pessoa do meu próximo, dedico-lhe o amor. Como nos diz o apóstolo João: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”.

Percebeste, desde o início, a falta de cultura dos paroquianos e te preocupaste bastante. Para diremir dúvidas e amenizar essa falha trouxeste várias personalidades do mais alto saber para proferir palestras e encontros culturais diversos que em muito enriqueceu o conhecimento dos condeubenses.

Na questão da vida está o verdadeiro sentido divino. Embora não sejas pregador fervoroso, exortaste bem o ouvinte, animando-o a valorizar a vida acima de tudo e repudiar a pequenez da morte. Para isto, usaste das homilias e a vinda de vários médicos para esclarecimento da população e prevenção da saúde. Podemos também dizer, que a vida por te homiliada, não é a banalidade de coisas efêmeras, nem de certos momentos de prazer. Torna-se de certo modo, o caminho do trabalho para todos, do bem-estar social, do direito e do dever, das necessidades primárias dos mais carentes prontamente atendidas, da felicidade de todos de modo geral, plena e irrestrita.

Caríssimo Giuliano, filho de Ilário e Genoveffa, quando chegares na tua terra, quando lá estiveres, quando a saudade tropical bater em tua mente, ora por nós. Certamente, em teus devaneios, farás uma avaliação: Que fiz de bom em Condeúba e que poderia ter sido melhor? Dividi parte de minhas atividades com as irmãs e com os leigos engajados na comunidade ou me arvorei em fazer quase tudo sozinho? Tive a devida paciência em minhas ações ou agi celeremente? Se isto te acontecer, fica tranquilo. Tudo ocorreu conforme a vontade do Pai. E Deus viu que tudo era bom.

Depois de certo tempo, descansado, com a saúde recuperada, renovado pelo Espírito Santo; volta, vem para a nossa alegria, para a nossa comunidade, para o nosso contentamento, és cidadão condeubense, porque nós te amamos e te queremos muito bem. Deus te proteja, te guarde e ilumine.

Muitíssimo obrigado!

Agnério Evangelista de Souza

Referência:

KLOPPENBURG, Fr. Boaventura OFM, VIER, Fr. Frederico – Compêndio Vaticano II, Ed. Vozes Ltda, Petrópolis – RJ, 1973

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2 Comentários

  • Ramon Sousa disse:

    Tive a felicidade de encontra-lo minutos antes de sua missa de despedida, quando saia de sua casa rumo à gruta. Na oportunidade, parei o carro, literalmente no meio da rua, desci, dei um forte abraço e o agradeci pela sua passagem por Condeúba e, ele, com os olhos cheios de lágrimas, também me agradeceu e garantiu que sempre estará conosco.
    NOVAMENTE, MUITO OBRIGADO, Pe. GIULIANO!

  • Joao disse:

    Lindo texto ! emocionante, Deus te conserve padre Giuliano

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