Rubem Alves: qual deles? O teólogo? O professor? O intelectual? O poeta? O autor de livros infantis? O ativista político?
Morto no último sábado, 19, aos 80 anos, o escritor mineiro Rubem Alves deixa legado com mais de 160 títulos, publicados e distribuídos em pelo menos 12 países. Consagrado junto ao público infantil por obras clássicas como ‘A boneca de pano’, o autor também conquistou prestígio em áreas específicas do conhecimento, como a teologia. No ambiente acadêmico, tornou-se reconhecido por ‘Da esperança – Teologia da esperança humana’, marco da Teologia da Libertação, e ‘Variações sobre a vida e a morte’.
Tudo isso e muito mais, reunido num só testemunho de vida. Vai-se o homem, ficam suas obras e, sobretudo, o exemplo de como o intelectual age na sociedade. Sua integridade reluz na capacidade que ele sempre teve de pensar ao mesmo tempo com a cabeça e com o sentimento, sem trair nenhum dos dois.
A título de homenagem, seguem ideias esparsas colhidas no capítulo sobre educação de seu livro Ostra feliz não faz pérola. Comecemos pelo título: pérolas resultam da reação da ostra ao grão de areia que a faz sofrer. Ostra feliz, Rubem Alves produziu várias pérolas. Eis algumas delas:
“A vida se faz com uma infinidade de erros.“
“Há dois tipos de ideias, as ideias inertes e as ideias com poder gravitacional… As ideias com poder gravitacional são aquelas que têm o poder de chamar outras. São sóis do sistema solar que é a nossa mente.”
“Não se deve criar o hábito de leitura… O que há de se fazer é ensinar as crianças a amar os livros.“
“Se eu pudesse mexer nos currículos da educação dedicaria metade do tempo à literatura.“
“Tive professores inesquecíveis. Alguns são inesquecíveis pela beleza de sua pessoa, por sua inteligência, pelo respeito aos alunos. Esses me fazem sorrir. Outros se tornaram inesquecíveis por sua pequenez e tolice. Esses me fazem rir.“
“O que dá às crianças o direito de aprender? Primeiro, é a curiosidade. As crianças acham as coisas do mundo muito interessantes e querem saber por que elas são do jeito que são. Pra que serve isso? Pra nada. Apenas pelo prazer: matar a curiosidade…“
“A compreensão exige um antecedente de experiência. Isso vale para a jardinagem, para a beleza da música, para iniciar a criança na arte da leitura… mas … é preciso, antes de mais nada, desconfiar de nosso estoque de experiências, colocar as nossas certezas de lado.“
Para encerrar:
“O dedo aponta para a Lua, mas ai daquele que confunde o dedo com a Lua.“
Rubem Alves se foi. Foi-se o dedo, fica a Lua e o exemplo do homem que amava ipês amarelos.
Fonte: Brasil Post
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