Uma falha humana está por trás do apagão no sistema elétrico que afetou o Norte e o Nordeste do país no dia 21 de março. Foi o que afirmou nesta sexta-feira (6) o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Luiz Eduardo Barata.
“É sempre chato admitir uma falha humana”, disse Barata, durante coletiva de imprensa convocada para explicar as causas da falha que deixou municípios de 14 estados no escuro.
Segundo o ONS, a falha está relacionada a um sistema especial de proteção aplicado na Linha de Transmissão Xingu-Estreito. “Alguém programou um ajuste e esse foi um ajuste indevido”, afirmou o diretor-geral do órgão.
Barata enfatizou, ainda, que o ONS não foi informado sobre esse ajuste. Em termos gerais, conforme explicou o diretor, esse ajuste funciona como um disjuntor usado para manter a segurança da linha de transmissão.
“Vamos imaginar que você tem um disjuntor para uma carga normal e você resolve colocar uma torradeira gigante. Ao invés de torrar o fio, o disjuntor cai”, explicou.
Responsabilidade técnica
“O proprietário da instalação é que é responsável”, afirmou Barata, sobre a falha identificada no sistema e que provocou o blecaute. No caso, o proprietário da Linha Xingu-Estreito é Belo Monte Transmissão de Energia (BMTE), que poderá ser responsabilizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A BMTE diz que “para permitir transmitir energia da usina de Belo Monte para o Sistema Interligado Nacional (SIN) sem as instalações planejadas e que não se materializaram devido à liquidação judicial da ABENGOA, foi necessário operar em situação provisória conforme autorização da ANEEL e do ONS”. A empresa citada prestava o serviço anteriormente.
Segundo Barata, o ajuste de segurança aplicado naquela linha foi indevido porque foi programado para uma frequência inferior à comportada por aquela linha de transmissão. Ao interromper a transmissão da linha, gerou um efeito cascata desligando outras linhas e usinas geradoras de energia, inclusive térmicas e eólicas.
“Esse disjuntor atuou interrompendo o fluxo da potência, separando os sistemas. Então, o Norte ficou com excesso de geração, e o Nordeste e o resto do sistema ficaram com falta de geração ao excesso de carga. Essa é a origem de todo o distúrbio que nós tivemos”, explicou.
Na nota, a BMTE afirma que “a ONS E ANEEL sabiam que até a entrada das duas barras (abril 2018) a BMTE estaria em situação provisória”. (Leia abaixo a nota de esclarecimento na íntegra).
A falha interrompeu o fornecimento de energia elétrica em municípios 14 estados do Norte e do Nordeste. Foram ele Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins.
Como o sistema nacional é interligado, as outras três regiões do país também tiveram reflexos da falha. Houve queda de energia pontual em alguns municípios de 8 estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) e no Distrito Federal. O ONS calcula que cerca de 70 milhões de pessoas foram afetadas.
Relatório final em 15 dias
Barata explicou que o relatório final de avaliação das causas do apagão deverá ser encaminhado em até 15 dias à agência reguladora.
Questionado sobre o grau de gravidade da falha, o diretor-geral do ONS se eximiu de classificar. “A modulação da gravidade é o regulador [Aneel] que vai estabelecer”, disse. Ele ressalvou, no entanto, “que se nós [ONS] tivéssemos sido informados [do ajuste de segurança], talvez isso não tivesse ocorrido”.
Barata descartou a possibilidade de que nova falha semelhante ocorra no sistema, classificado por ele como “robusto”.
“[Chance de apagão] igual a esse, eu acho zero. Agora, não me peça para dizer que não vai acontecer outra coisa”, ponderou.
Fonte: G1
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