Por: Décio Pereira
Nada mais próximo de nós do que nossos vizinhos, pedimos café, açúcar, máquina de cortar grama, garagem… pedimos a eles um monte de coisas emprestado. Confiamos as chaves de nossas casas para molharem as plantas, alimentar nossos animais de estimação… em alguns casos, até casamos com nossos vizinhos. Assim, não havia melhor apelido para descrever nosso amigo Jaciro, o “VIZIM” . Amigo, irmão, camarada, pau pra toda obra, um sujeito servidor. Qualquer favor que lhe era solicitado, se estivesse ao alcance dele, ele faria com prazer. Sempre educadíssimo, um cavalheiro no trato com todos, desfilava assim o seu jeito meio apaulistado de ser, fruto dos tempos que passou lá na capital da nossa Bahia, essa outra Bahia que é tão diferente daquela outra Bahia. A Bahia do nosso Vizim. Ele foi tão amigo, gente boa, que esperou as festas acabarem para ir embora, ir embora para sempre, mas na hora certa, não queria atrapalhar ninguém.
Jatobá no alto de sua sabedoria falou: “Que negócio inexplicável, Jaciro teve toda chance de morrer em acidentes, brigas, confusões, doenças e morreu dormindo, sem nenhum alarde”. Pensando bem, até que foi mesmo, quebrou um monte de dedos soltando fogos, caiu da ambulância em movimento, quando a porta do fundo abriu e a maca desceu com tudo; caiu da ponte; caiu de um caminhão carregado; teve convulsões; tomou um murro e bateu a cabeça no meio fio; apanhou em todas as brigas que se meteu e sobreviveu a tudo isso, perdeu a luta apenas para um enfarto, porque veio no meio da noite quando ele dormia, desprevenido, só assim para levarem nosso Vizim.
Dão Nosso se encontrou com ele dois dias antes e pensou sozinho: “Qual será a próxima história de Jaciro?” Não sabia Dão, que era a última vez que o veria vivo, a ultima página da sua história folclórica estava para ser contada, a morte já se avizinhava para levar nosso Vizim, claro, na surdina, porque de frente a frente, a morte perdeu para ele por 54 anos. Quantas e quantas vezes a família achava que ele tinha passado dessa para uma melhor e ele, triunfante voltava das cinzas, ressurgindo como uma fênix! Porém, foi vencido de maneira sorrateira numa noite fria do mês de junho. Penso que os anjos estão em festa para receber seu mais novo e ilustre vizinho lá no céu. Jaciro está chegando, se no céu tiver comida, com ele com certeza chegará muita pimenta. Ele chegará sorrindo, alegre, querendo ajudar a todos para fazer uma presença, como todo bom vizinho.
Pensei por algumas horas, o que deveria escrever para homenagear nosso amigo que se foi. Fui um dos primeiros a saber e poderia escrever uma matéria para noticiar sua morte, mas que graça tem noticiar a morte de um amigo? Eu que não quis espalhar essa tristeza, logo eu que passei minha vida escrevendo sobre Jaciro, fonte inesgotável de belas, aparentemente trágicas, mas sempre alegres histórias. Convivi com nosso Vizim desde a nossa mais tenra idade, sempre um amigo servidor e respeitador. A vida nos separou algumas vezes, mas sempre nos juntou de novo para mais uma história ou mais uma piada ou um novo “causo”. Sabemos que Deus tem um lugar especial para nosso amigo, pois sempre quis o bem a todos e sempre ajudou como pode a quem lhe procurou, sua missão terminou mais cedo do que a nossa ou continuará em outro plano, com muita luz e paz. Vai com Deus meu bom amigo, obrigado pelas vezes que me fez sorrir, como todo bom vizinho deveria fazer. A gente se vê logo logo, a vida nos separou algumas vezes, juntou noutras e a morte com certeza nos juntará. Guarde meu lugar aí, chego em breve e quero ser seu vizinho mais uma vez, agora na eternidade. Abraços, Vizim!
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