Por: Andressa Ribeiro
Quando era mais nova lá nos Gerais, lembro que gostava de cantarola Esquadros, da Adriana Calcanhotto, eu e meu irmão, sempre que escuto essa música, lembro dele, de Frida, Almodóvar, e alguns versos me puxam pelo pé, quando presto atenção em cores que não sei o nome, quando sinalizo o estar de cada coisa, filtro seus graus, quando divirto gente, choro ao telefone e vejo doer à fome dos meninos que têm fome.
Lembro das minhas aulas de historia, dos movimentos estudantis que participei, da turma em que andava (Professor Everaldo, Flávio Benigno, Trololó, Michelly, Ellen, Diego, Leo, tantos outros colegas), concordávamos em algum ideal absoluto de que o problema da injustiça estava bem acima do dinheiro, e que esse era só um pedaço de papel. Tudo Parecia simples no Ensino Médio, pensar de modo maniqueísta: Maus lá, Excluídos cá. E quando nos formássemos saberíamos a formula de mudar tudo, Viva a revolução!!! E eu estava ali criando tudo no que acredito agora, quando penso ou vejo pessoas com fome, sem casa, discriminadas e criminalizadas nos seus pontos mais frágeis e indefesos.
Há mudanças teóricas em meu pensamento, mas quanto à matéria minha indignação apenas aumenta. Voltar ao Sertão Baiano me fez abrir os olhos para “fome” que já tinha como rotineira, menores aqui também se prostituem, a criminalidade cresce, existe aglomerados, tudo se faz na base de troca, o que eu vou ganhar se ajudar meu vizinho? O povo não se ajuda a crescer o que me deixa estupefatamente insatisfeita, triste por minhas formulas falharem, e já não acredito mais em nenhuma formula fechada de mudança do mundo, e mesmo assim quero seguir tentando.
Leio livros, reivindico ações, brigo, bato pé e até escrevo, quem sabe alguma coisa mude, onde for e eu possa sentir, porque talvez dizer “que eu fiz a minha parte” pareça fraqueza. O acesso a informação não corrige a ignorância de tanta gente e porque ignorância é diferente de desconhecimento. Caráter se conhece, se traz, se faz, se convence ou se ignora. Conhecer, trazer e fazer é muito mais difícil do que ser convencido, mas não posso acreditar que por dinheiro o convencimento diga a respeito a outras pessoas serem simplesmente ignoradas. Convençamo-nos por algo menos mesquinho meus amigos. Pelas aulas de História…
Admito que escrevo algo que quase ninguém vai ler, um desabafo mais motivado pela musica, pela saudade do meu irmão e dos meus colegas, pelo sentimento que ainda existe em mim, sem nenhuma pretensão mais séria. Talvez um pedido de ajuda, artística ou até política, ás pessoas que guardam ideais como esse, para os que não ficam quietos, ainda que não consiga gritar, tente.
“Exponho o meu modo, me mostro: Eu canto pra quem?” Perguntaria eu nas aulas de historia. Vou voltar a cantarolar com meu irmão, meus amigos, em roda entoar um sentimento vivo.
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2 Comentários
Bom textos que nos fazem pensar, de forma leve e musical sobre nossa sociedade!!!
Valeu Andressa, adorei!
Vamos entoar um canto novo, juntos sempre, lutando por dias melhores. Abraços Andressa, gostei muito do seu texto.