Como os pais devem lidar com a orientação sexual de seus filhos

paisfilhosSe o bullying nas escolas já é um grande problema na vida dos adolescentes, nos casos de homofobia, a situação é bem pior. Segundo estudo realizado em 501 escolas de 27 estados do país pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em 2009, 87,3% das pessoas apresentaram algum nível de preconceito em relação à orientação sexual .

O estudo foi feito com questionários aplicados a 18.599 pessoas (entre estudantes, professores, diretores e pais) e revelou também que 98,5% dos entrevistados desejavam manter algum nível de distância dos homossexuais.

O que se fazem muitos pais e mães quando eventualmente descobrem que seu filho ou filha é homossexual? Meu filho é gay. E agora? A resposta é simples na teoria, mas será preciso esforço consciente para incorporá-la: e agora, o fato é que ele continua a ser seu filho. Nada mudou neste quesito e, acredite fazer chantagem emocional ou discurso religioso não fará seu filho deixar de ser homossexual. No máximo, ele aprenderá a mentir para você, o que, convenhamos, sai completamente do projeto de um relacionamento familiar saudável.

A homossexualidade (atração sexual por pessoas do mesmo sexo) ainda provoca uma série de situações delicadas em diversas culturas, em muitas famílias e também em alguns homossexuais que se auto-rejeitam. Normalmente, os pais ficam assustados, desapontados e com raiva quando descobrem a orientação sexual * do seu filho por pessoas do mesmo sexo. Acredito que, neste momento, a melhor informação a ser passada é a de que a homossexualidade não é uma doença, tendo a OMS a excluído definitivamente da Classificação Internacional de Doenças (CID-l0). Muitos pais revoltam-se porque acham que o filho “virou”, de uma hora para outra, sua orientação sexual. Não é bem assim. Da mesma forma que a maioria das pessoas cresce se sentindo atraída pelo sexo oposto, tal ocorre com aquelas que têm atração por indivíduos do mesmo sexo.

Atualmente, a expressão “orientação sexual” é usada no lugar de “preferência sexual”. Porém que vemos  nos programas de Tv, é uma expressão equivocada de “opção sexual”  como se alguém optasse a ser heterossexual ou homossexual.

Segundo Edith, que é autora de “Mãe Sempre Sabe? – Mitos e Verdades sobre Pais e seus Filhos Homossexuais” (Editora Record), o primeiro passo para ajudar os filhos é aceitá-los completamente. “O preconceito está diminuindo, mas, dentro de casa, mudou muito pouco. Os jovens ainda têm medo de contar para família que são gays. Se tiverem a aceitação dos pais, saberão que podem contar com eles para ajudá-los”, afirma.

Além de sofrerem com a homofobia nas escolas, o que agrava a situação é que os filhos dificilmente encontram o apoio de que precisam em casa. “Se uma criança sofre preconceito por ser negra, ela chega em casa e fala com a mãe, que vai reclamar com a professora, a diretora. Os jovens gays, geralmente, não têm com quem falar, porque os próprios pais não aceitam sua orientação sexual”, declara Edith Modesto, terapeuta especialista em diversidade sexual e questões de gênero e fundadora e diretora do GPH (Grupo de Pais de Homossexuais).

Muitos pais idealizam seus filhos, imaginando-os profissionais reconhecidos e criando uma idéia que nem sempre será correspondida. Um pai, muitas vezes, chora pela imagem perdida do filho, preocupando-se com o que os outros vão falar… Caso você seja um dos que sofrem pela orientação sexual de um filho e não esteja lidando bem com suas emoções, recomendo uma ajuda profissional, pois é bem provável que você tenha receios arraigados, sentimentos de vergonha, de culpa, e talvez até se sinta surpreso por perceber que não é liberal, como suspeitava. Muitos poderiam perguntar: “Devo levar meu filho a um psicólogo ou psiquiatra?”. Se sua intenção for a de mudá-lo, a resposta é não! Porém, se você acha que não está preparado para lidar com a descoberta da orientação sexual do seu filho e/ou se ele também está perdido em seu relacionamento com os pais, a resposta é sim! Nesses casos, a orientação de um terapeuta ajudará a todos.

De acordo com o educador Caio Feijó, autor dos livros “Pais Competentes, Filhos Brilhantes” e “Os Dez Erros que os Pais Cometem” (Editora Novo Século), o primeiro preconceito que os jovens gays sofrem acontece em casa. “A primeira discriminação acontece quando os pais sabem. Por mais que eles tenham uma cabeça aberta, a maioria não fica feliz, pois tem receio de que o filho sofra com o preconceito da sociedade”, diz.  Para Feijó, os pais devem buscar ajuda para conseguir lidar com a homossexualidade do filho, ou ele irá esconder sua orientação.

“O primeiro lugar que pode e deve oferecer segurança para o jovem é a casa dele. É preciso ouvir quando ele falar sobre sua orientação, e sem recriminá-lo. O jovem está cansado de ouvir piadas e ver os gays serem apresentados de modo preconceituoso na TV. Ele tem muita angústia dentro dele”, afirma Maria Cristina Cavaleiro, professora de políticas públicas da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), coordenadora do grupo de estudo sobre gênero e diversidade da instituição e participante do grupo Edges (Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual) da USP (Universidade de São Paulo).

“Há uma dificuldade muito grande de aceitação por parte dos pais. Eles foram criados para terem filhos héteros, e os filhos aprendem, desde criança, que devem ser assim, que os sonhos dos pais foram construídos para isso”, diz Edith. “Muitos jovens me procuram perguntando como fazem para serem héteros, iguais ao pai, à mãe. Os filhos ficam tristes ao ver que os pais têm dificuldade para aceitá-los. Os adultos precisam entender que eles são assim, não escolheram ser.”

Lembre-se: muitos pais não conhecem seus filhos, e você pode estar começando a conhecê-los e as suas emoções. Após esse primeiro contato com a orientação sexual dos filhos, os pais ficam perdidos e experimentam uma série de emoções; porém, ao longo do tempo, a maioria acaba aceitando ou compreendendo que os homossexuais são pessoas e torna-se mais amiga e próxima do que antes. Acredite que, se para você, que é pai ou mãe, é difícil lidar com a orientação sexual do seu filho, para ele também é complicado conversar com os pais sobre o tema. O temor de ser rejeitado é grande e, muitas vezes, leva o homossexual a depressões.

Estas pessoas provavelmente possuem uma gama de pensamentos preestabelecidos, em que o homossexualismo é algo doentio, nocivo e vergonhoso. Temem, assim, a rejeição de sua família e da sociedade. Um homossexual nessas condições precisa de ajuda, pois vive em constante conflito e se escondendo. Assumir ou não é uma decisão sua; porém, nesses casos, uma proveitosa conversa com pessoas idôneas e boas e/ou um psicoterapeuta o ajudará muito a se assumir, a se sentir à vontade e a ter certeza de que é um indivíduo merecedor de respeito, como qualquer outro. Procure ler tudo sobre homossexualismo: verdades, crenças, tabus e outras informações. Colha dados de personalidades, depoimentos de pessoas que se assumiram; informe-se sobre suas dificuldades e vitórias.

Segundo Klecius Borges, psicólogo pós-graduado pela USP que atua na área de terapia afirmativa para gays e orientação familiar desde 2001, os pais preparam os filhos para possíveis situações preconceituosas ao aceitá-los como são, sem críticas ou opressão, e ao ensiná-los que as pessoas são diferentes e não há nada de errado nisso. Com amor e apoio, os filhos acabam tendo maior autoconfiança para lidar com os problemas, incluindo a homofobia.

Ao perceber que o jovem é vítima de homofobia na escola, é natural que o primeiro impulso dos pais seja o de ir ao colégio e cobrar satisfações e, até mesmo, tentar conversar com os pais do colega que maltrata o seu filho. No entanto, é preciso ter cuidado para respeitar o espaço e a vontade do adolescente

“Os pais só podem falar na escola se o filho permitir. Eles não podem chegar dizendo que o filho é gay e está sendo vítima de preconceito, a única pessoa que pode dizer isso é o próprio jovem, que, muitas vezes, não quer sair do armário ainda”, diz Edith.

Além disso, principalmente na fase da adolescência, é comum que o jovem queira resolver sozinho os seus problemas e tenha vergonha que os pais tentem fazer isso por ele. “Se os pais vão à escola, o jovem fica com fama de dedo duro, de covarde. Quanto mais os pais fortalecerem a autoestima do filho, mais ele mesmo irá se defender e falar com a direção sozinho, se for o caso”, diz ela.

Um jovem, quando conta sobre sua orientação sexual aos pais e obtém deles apoio, tira dos ombros um peso enorme; porém, nem sempre os fatos ocorrem assim. Algumas famílias não aceitam e rompem com o jovem que se assume. Portanto, antes de contar, o jovem deve certificar- se bem, pois a auto-rejeição pode potencializar-se se a família o rejeitar.

Caso seja difícil o contato com um psicoterapeuta, devem-se procurar grupos de apoio e centrais de informações especializadas.

“A felicidade é qualquer coisa que depende mais de nós mesmos do que das contingências e das eventualidades da vida”. Julio Dantas.

Valdivino AlvesValdivino Alves é Pedagogo, Psicopedagogo, Matemático, Contador, Consultor Tributário, Professor e Escritor. Autor de projetos e livros na área de educação, pesquisador em comportamento da aprendizagem e desenvolvimento da inteligência. Possui graduação em Pedagogia, Matemática, Ciências Contábeis e Direito. Pós-graduado em Educação Matemática Comparada, Pós-graduado em Piscopedagogia Clínica e Institucional e Mestrado em Psicologia Organizacional. Escreve sobre, educação, comportamento e Direito. 
Site: www.valdivinoalves.com.br E-mail: prof.valdivinoalves@bol.com.br

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4 Comentários

  • Marittza Ribeiro disse:

    Parabéns pela matéria!
    O Ddez sempre surpreende

  • Dr Carlos André disse:

    Q bom abrir este site e ler uma metéria de tão grande valor para todos. Educação é a base de tudo e saber lidar com as diferenças é o grande desafio da atualidade. Parabéns ao site, ao colunista e a Condeúba e região q conta com pessoas q se importam com a felicidade alheia.
    Dr. Carlos André – Fomosa do Rio Preto

  • Anita disse:

    Parabéns pela matéria

  • Luiz Miguel disse:

    Parabéns ao colunista Valdivino Alves, pela excelente matéria. Na nossa região condeúba e demais Cidades vizinhas, ainda existe o preconceito e com certeza muitos pais não estão preparados para lidar com essa situação. Mas percebo que os pais buscam informações essa matéria só vem a somar orientação.

    Deve ser dois sofrimentos: um para o pai e outro para o filho, hoje em dia nas cidades pequenas e zona rural existem pessoas que não se assume com medo de represália dos pais ou amigos.. Acredito que isso seja um sofrimento, ou seja reprimir um desejo.

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