Por: Paulo Vieria – Professor e Advogado
Cheguei a São Paulo/SP nos primeiros dias do ano de Jesus Cristo de 1992. Foi após uma longa viagem de “Novo Horizonte”. Quando desci no Tietê, havia uma leve chuva; nada melhor para justificar o apelido dessa terra querida e de oportunidades. Acho até que o apelido – “terra da garoa”, que eu sempre chamei de terra boa – está hoje fora de moda!
Pois bem! Voltando ao início da viagem em Condeúba…
Era o final de uma madrugada quente. Além da pequena mala e alguns livros – o principal deles, “a gramática em 44 lições” de Platão Savioli, de quem anos depois fui aluno na ECA/USP – , estava comigo naquele já quase dia Arlindo Vieira, Arlindão, meu pai.
“O velho” parecia triste, mas não chorou; apenas abaixou a cabeça. Acho que a timidez não permitiu; eu, muito menos, como filho mais velho que sou, em pleno início dos anos 90, no interior da Bahia! Seria uma afronta a papai ficar chorando em beira de “rodoviária”: coisa, naquela época, de donzela riquinha, saindo de Condeúba para estudar no “São Tarcísio”.
Bom! Entrei no ônibus, também chamado, aí na zona rural da Cidade, de “pé de borracha”. Do meu lado logo, não sei se por sorte ou carinho de Deus, talvez já resultado das “salve rainhas” e velas de minha bondosa mãe, sentou-se uma das mulheres mais bonitas, charmosas e interessantes da nossa Cidade – uma das grandes musas dos anos de ouro da mangueirinha. Ah, se eu pudesse … ! Por ora, deixo ao leitor a tarefa de imaginar a mulher, sua beleza e tal termo interessante.
Os anos passaram depressa demais. Pouco tempo depois, realizei um grande desejo: ingressei na Universidade de São Paulo e, também logo depois, virei pai de uma menina, hoje já quase adulta, uma versão muito parecida comigo, só que de saias e muito gata! Deve ser influência genética da mãe – só pode!
Aí, veio minha primeira grande tristeza com a noticia da morte de “Maria de Zé Loro”, uma das minhas tias de quem eu mais gostava e alimentava o desejo de revê-la. Foi um baque grande naqueles meus, acho, vinte e poucos anos.
Percebi então que as altas e perigosas fragilidades da vida humana estavam sempre por perto. Fiz como sempre, algumas orações e clamei a Cosme e Damião, cujos restos mortais visitei há pouco mais de dois anos na bela Roma, nas proximidades das ruínas do Coliseu.
Apesar das dificuldades de sempre, busquei avançar como católico que sou, crente na missão reservada a todos nós nessas terras sagradas desse Brasil de meu Deus!
Mais tarde ingressei no Ministério da Fazenda, em uma das funções que em um passado já distante foi ocupada por Manuel Antônio de Almeida, autor do clássico “Memórias de um Sargento de Milícias”, homem que teve a tarefa de chefiar um jovem aprendiz de funcionário público – dizem que, às vezes, até relapso no trabalho – chamado Machado de Assis.
Como nas novelas, a vida real passa também muito rápido e aqui estou eu com 42 anos. Meus já velhos pais, Arlindo e Custódia, aproximam-se dos 75 anos!
Chega de digressão; já falei de mortos e vivos, de santos, de musas e de Deus!
Agora, o que quero falar, aqui mesmo nessa conversa de hoje, é que nos últimos meses duas noticias tomaram minha atenção de formas totalmente opostas, no meio das dezenas de preocupações de um cidadão comum, um homem do povo, no curso natural da vida, pai de três filhos de “todas” as idades.
Há alguns dias (já meses) me chegou a noticia, não pelos velhos e bons arautos de Condeúba, mas pelo Jornal Folha de São Paulo – o mais lido e importante veículo da imprensa escrita em toda a América Latina – , um Condeubense, a quem saúdo desde já, havia sido aprovado em vários e vários vestibulares concorridos de medicina pela Bahia inteira, até na majestosa Federal! Foi um misto de orgulho e sentimento de amizade, pois, mesmo não o conhecendo, fiquei sabendo, logo em seguida, que o moço é filho daquela minha colega de boleia, rumo a São Paulo: a moça do início do texto, leitor!
Agora, gente, no último mês, mais uma vez a Condeúba do passado povoou a minha mente no presente; desta vez, com muita tristeza. Fiquei sabendo da morte de “seu” Josué.
Fazia muito tempo que não conversa com ele; avistei-o em algumas dessas minhas rápidas visitas à Cidade nessas duas últimas décadas. Fui amigo e parceiro de estudos de vários dos seus filhos – Marcinho, folhinha (…) e, do talvez mais brilhante deles, fui aluno de matemática; aliás, péssimo aluno!
Como se diz ai em Condeúba, vivia “enfurnado” na casa de “seu Josué” durante a minha infância, estudando matemática e, principalmente, debatendo os jogos de Flamengo e Vasco da Gama, com gente como Donhão, Júnior de Vavá e muitos outros.
Às vezes, mesmo envergonhado, almoçava e tomava café por lá; algumas vezes, como a casa é muito grande, chegava até mesmo a “puxar” uma palha (breve cochilo) nas tardes quentes e sonolentas da Condeúba dos anos 80 – sem computador, internet, facebook, Ah, também sem WhatsApp – não havia o tal zap-zap dos nossos dias!
Foi numa dessas tardes que conversei pela primeira vez com o também brilhante vereador e advogado “Dr. Valdinho”. Foi dessas conversas que nasceram os meus interesses pelas letras jurídicas, que mais tarde me fariam advogado, professor e a criar instituições de ensino.
Já vou parar por aqui, mas, parafraseando o apóstolo Paulo, de quem Custódia, minha mãe, arrumou meu nome: “Seu Josué”, o senhor fez sua carreira, criou uma numerosa e digna família, cultivou novos e velhos amigos, guardou a fé Fique com DEUS! E vida longa à Condeúba e ao seu povo!
AVISO: O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade do autor da mensagem.
2 Comentários
Uma bela trajetória de vida, caro Paulo!!! Parabéns!!
sou advogado de Piripá, venho acompanhando sua trajetória junto com seu irmao Rubens, sempre prestativo, pois apesar de nao nos conhecermos, sempre fui bem atendido por vcs dois por telefone. Sinto mto orgulho de seu potencial e ter por perto um baiano que nos honra ai no Sudeste, pois tambem me formei ai e sofri na pele por ser Nordestino. Mas saiba que vc tem mto a produzir e a oferecer com sua capacidade de ser um dos melhores alunos do Brasil