Pelas estradas vicinais e acessos aos povoados, vilas e distritos dos 144 municípios afetados pela seca na Bahia e que estão em situação de emergência, o tráfego mais comum tem sido o de caminhões do Exército transportando água para as localidades onde já não há qualquer outra forma de abastecimento à população. São 1.100 veículos que diariamente percorrem açudes, pequenas barragens, aguadas e tanques instalados nas sedes municipais em busca de água para abastecer a população.
Em todo o estado, segundo as últimas informações da Defesa Civil, são 1,5 milhão de pessoas que estão afetadas diretamente com a seca, sem água e com dificuldades na aquisição de alimentos. As perdas na agricultura chegam a 90% da produção nas regiões Sudoeste, Microrregião de Irecê e entorno do Lago de Sobradinho. Na pecuária, essas perdas são superiores a 60%. Além dos 144 municípios em situação de emergência , outros 20 estão aguardando a homologação de decreto, e 51 foram afetados com os incêndios nas matas, também decorrentes da prolongada falta de chuvas.
O que tem garantido a sobrevivência da população nas áreas mais afastadas das sedes dos municípios são os programas sociais do Governo Federal, como o Programa Bolsa Família. Segundo a Defesa Civil, não tem havido êxodo rural para outros estados, mas muita gente tem se concentrado nas cidades em busca de algum tipo de atividade, já que no campo a atividade agropecuária praticamente deixou de existir nesses últimos meses. “É uma situação crítica com uma seca que persiste desde 2012”, diz o coordenador de Ações Estratégicas da Defesa Civil do estado, Paulo Sérgio Menezes.
Menezes, que chegou ontem de Brasília onde esteve reunido com dirigentes da Agência Nacional de Água e do comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, disse que a situação é alarmante principalmente no Sudoeste do Estado, Microrregião de Irecê e região do Lago de Sobradinho. “Nessas três áreas todos os municípios estão em situação de emergência”, disse.
Ações emergenciais
Somente com contratação de carros-pipas a Defesa Civil Nacional tem gasto R$ 87 milhões mensais pára atender aos municípios da região nordeste e Norte de Minas gerais. Na Bahia são 1.100 caminhões do exército nessa tarefa de pegar água dos reservatórios e transportá-las para as comunidades das sedes e zonas rurais dos municípios em situação de emergência.
Além dessa ação, a Defesa Civil do Estado tem realizado convênio de R$ 50 mil mensais com as prefeituras para a contratação de mais caminhões-pipas. O Governo do Estado também recebeu R$ 16 milhões do Governo federal para a perfuração de poços artesianos que vão beneficiar, em, caráter de emergência, 110 localidades da zona rural dos municípios mais afetados. A primeira região a ser beneficiada é a Sudoeste, onde todos os 40 municípios estão em situação de emergência.
A presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria Mendes, diz que o momento é preocupante. Na última semana, a UPB conversou diretamente com a presidente Dilma Rousseff (PT) e fez um apelo para que o Ministério da Integração Nacional (MI) mantenha os recursos para socorrer os municípios na seca.
Ontem o Ministério da Integração nacional decretou situação de emergência em 15 municípios de regiões cortadas pelo Rio São Francisco na Bahia por conta da seca. Com o decreto, as cidades poderão receber recursos da União para enfrentar a estiagem. O decreto atinge uma população de 223,3 mil pessoas que vivem nesses 15 municípios. As cidades que tiveram o decreto homologado pelo Governo Federal são Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Cocos, Curaçá, Glória, Juazeiro, Paulo Afonso, Pilão Arcado, Remanso, Rodelas, Sento Sé, Sobradinho, Uauá e Wanderley.
Instituto de meteorologia não prevê chuvas imediatas
Quando se olha o mapa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) verifica-se que não há quaisquer previsões de chuvas para a região do Semiárido Baiano pelos próximos cinco dias, principalmente na região do Rio São Francisco. Por causa da seca prolongada, 144 municípios estão em situação de emergência, afetando diretamente a vida de 1,5 milhão de pessoas, que têm problemas com o abastecimento de água e aquisição de alimentos.
Com o fenômeno do El Niño mais forte as perspectivas de chuvas para a Região nordeste, incluindo todo o semiárido baiano, pelos próximos três, indicam volume abaixo da média histórica. O El Niño é o aquecimento do Oceano Pacífico que provoca acúmulo de massa de ar quente no Nordeste, diminuindo as probabilidades de chuvas, fazendo com que estas se concentrem mais no Sul e Sudeste do país.
Previsões
As previsões tanto do Inmet como do Cptec/Inpe (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do instituto Nacional de Pesquisas espaciais) mostram que até o início desta semana o tempo deverá permanecer nublado a parcialmente nublado com pancadas de chuva e possíveis trovoadas isoladas no sul e sudoeste da Bahia, e com pancadas de chuvas isoladas no Oeste, possibilidade no Recôncavo Baiano e Chapada Diamantina.
Já nas previsões a longo prazo para os meses de novembro, dezembro e janeiro indicam maior probabilidade dos totais pluviométricos sazonais ocorrerem na categoria abaixo da faixa normal climatológica em grande parte da região Semiárida da Região Nordeste, com distribuição de probabilidade de chuvas de até 40% abaixo da média histórica .
Com relação às temperaturas, a previsão climática para o trimestre indica temperaturas acima da faixa normal climatológica para toda a região Semiárida. Ontem as temperaturas estavam em 35º C no Nordeste do Estado, 35ºC na Região Norte, 38º no Oeste, 38º em toda a região do Rio São Francisco, e 34º no Sudoeste do Estado e Chapada Diamantina.
265 municípios no semiárido
A região do Semiárido Baiano tem 265 municípios e corresponde a 63,5% do território do Estado. São 393.056,1 quilômetros quadrados, onde residem aproximadamente 45% da população, e pouco mais que 30% do Produto Interno Bruto (PIB). A Bahia é o estado brasileiro com maior participação relativa na região Semi-Árida.
O Semiárido baiano não se constitui numa região homogênea. Ao contrário, trata-se de uma região na qual a diferenciação dos espaços é bastante evidente, com discrepâncias acentuadas nos indicadores sócio-econômicos frente à média da região e, consequentemente, à média do Estado.
Os números do Censo de 2010 do IBGE mostram que a Bahia é o estado que abriga, em termos absolutos, o maior número de famílias em situação de vulnerabilidade alimentar em todo o país.
Os dados mostram que aproximadamente 2,4 milhões de baianos, 15% do total nacional, vivem com uma renda mensal de até R$ 70 na Bahia. Quando o olhar recai sobre o Semiárido baiano, os números são mais alarmantes. É lá onde vivem 61% da população mais pobre do Estado, ou quase 1,6 milhão de pessoas.
Região do Polígono
Já a região denominada Polígono das Secas abrange 1.348 municípios nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, compreendendo grande parte da Região Nordeste. Constitui-se de diferentes zonas geográficas, com distintos índices de aridez.
Em algumas delas o balanço hídrico é acentuadamente negativo, onde somente se desenvolve a vegetação de caatinga. Existem também áreas de balanço hídrico positivo e presença de solos bem desenvolvidos. Contudo, na área delimitada pela poligonal, ocorrem, periodicamente, secas anômalas que se traduzem na maioria das vezes em grandes calamidades, ocasionando sérios danos à agropecuária nordestina e graves problemas sociais.
Fonte: Tribuna da Bahia
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