A birra infantil põe à prova a paciência dos pais, cuidadores e educadores. Por mais difícil que seja para o adulto lidar com ela, algumas atitudes são importantes, como não demonstrar estresse ou ansiedade. Este é o conselho da filósofa, educadora e escritora Tania Zagury. Confira a entrevista da especialista à Fundação Maria Cecília Souto Vidigal sobre o tema:
FMCSV – Existe uma fase da infância em que a “birra” é natural, fazendo parte do processo de desenvolvimento? O que ela indica?
Tania Zagury – A birra é uma forma de expressar insatisfação. De modo geral, a criança pequena a utiliza para demonstrar raiva ou frustração, já que, até por volta dos três anos, ela ainda não dispõe de outras ferramentas para demonstrar tais sentimentos. A partir dessa etapa, no entanto, o evento “birra” precisa ser gradativamente substituído por outros meios de comunicar frustrações. Para isso, é importante que fique claro para a criança que essa forma de comportamento não leva aos resultados desejados. Se isso não ocorrer, é sinal de que os adultos não estão atuando de maneira eficiente.
FMCSV – Na creche ou pré-escola, quando uma criança faz birra, de que forma o educador deve agir?
TZ – Os educadores – pais, professores ou cuidadores – precisam levar a criança a compreender que a birra ou chilique não é a maneira adequada de ela conseguir o que deseja. Surte mais efeito se essa clareza for passada por meio de atitudes e não de palavras.
FMCSV – Como os pais podem ajudar a criança em momentos assim, sem mimá-la ou reprimi-la de maneira inadequada?
TZ – O ideal é deixar a criança “ter o chilique” e não demonstrar estresse ou ansiedade. Se preferir dar uma explicação, que seja uma apenas. E não precisa gritar, mesmo que a criança esteja berrando. O ideal é falar em tom normal, mas firme: “Isso não está certo. Vou esperar passar, depois a gente conversa”, ou algo do gênero. E só uma vez mesmo! Em casa ou na escola a preocupação deve ser a de afastar objetos com os quais a criança que se joga ao chão, por exemplo, possa se machucar. Quando ela parar com o “ataque”, aja como se nada tivesse acontecido, mas mantenha a atitude que gerou a birra. Se você a proibiu de pegar um objeto, ele continuará proibido, caso contrário, a criança terá razões para pensar que vale a pena adotar o chilique. Em pouco tempo ela entenderá que a estratégia não funciona.
FMCSV – O que você acha de atitudes como bater, colocar de castigo (ficar quieto em um canto por determinado tempo), tirar coisas da criança de que ela gosta para puni-la, como estratégias para impor limites?
TZ – Todo ser humano precisa compreender que a sociedade é regida por regras, leis e por um conjunto de normas éticas. E ele só aprende essa coisa, que parece óbvia, quando passa pela experiência da aprovação/reprovação e também pela premiação/sanção. São os termos que prefiro. Quando uma criança burla regras que foram instituídas pela primeira vez – seja em casa ou na escola – deve ser repreendida, sim, porém, mais do que repreendida, precisa ser alertada para o fato de que tal ou qual atitude não é aprovada pelo grupo. Se, apesar de esclarecida e orientada, ela continuar a não respeitar as regras, só mudará se sentir que há “um certo preço a pagar”. São as sanções educacionais, como gosto de chamar. Bater jamais é sanção justa. O ideal é tirar algo, como uma sessão de cinema ou o tempo maior que se dá a ela no fim de semana para os joguinhos eletrônicos etc. É importante também não se esquecer de premiar as atitudes adequadas – mas não com presentes materiais, e sim usando elogios e carinho. Enfim, formas de mostrar aprovação a certas atitudes e desaprovação a outras. É assim que se começa a compreender o que é lei, o que é sociedade e a vida em comum.
FMCSV – O que mais é importante os educadores saberem sobre a birra?
TZ – É essencial que saibam que todo o trabalho feito irá por água abaixo se houver atitudes diferentes entre as pessoas que cuidam da criança. Aí, as birras certamente demorarão muito a desaparecer.
FMCSV – Tania, qual dos seus livros você indica aos pais e educadores para que se aprofundem no tema?
TZ – No meu site há uma lista de opções interessantes, para as diversas situações do desenvolvimento infanto-juvenil. Com relação a este tema específico, indico três obras, que se complementam: “Limites sem traumas – educando cidadãos”, que já está na 82ª edição, “Educar sem culpa” e “Filhos, manual de instruções”.
Tania Zagury é professora adjunta e Mestre em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Filósofa graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), autora de 25 livros publicados no Brasil e no exterior, conferencista e pesquisadora em Educação.
Fonte: EBC
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