A 18ª edição da ação humanitária promovida pela ONG Voluntários do Sertão, que aconteceu de 28 de abril a 6 de maio, em Santaluz, na Bahia, promoveu mais de 45 mil atendimentos à população
No dia 28 de abril, um avião da Força Aérea Brasileira partiu do interior de São Paulo rumo ao interior da Bahia levando saúde e solidariedade. A rota é velha conhecida de quem se juntou à Organização Não Governamental (ONG) Voluntários do Sertão, idealizada pelo empresário Doreedson Pereira, que, há 18 anos, decidiu atuar efetivamente na prestação de assistência a populações carentes do sertão baiano, seu local de origem. A ideia foi acolhida por tantas pessoas que a iniciativa nunca mais parou. Pelo contrário, vem crescendo gradativamente.
No seu 18º aniversário, a ação humanitária aconteceu em Santaluz, município com pouco menos de 40 mil habitantes que, hoje, destaca-se pela produção de pedras. Os voluntários de Ribeirão Preto e região juntaram-se, na chegada, ao grupo de apoio local para formar um time de cerca de 350 pessoas. Em cinco dias de trabalho — desconsiderando o tempo de ida, montagem e retorno — foi possível realizar mais de 45.000 ações gratuitas.
Somente na área da saúde, foram mais de 28 mil atendimentos. A população recebeu assistência em cardiologia, clínica médica, dermatologia, endocrinologia, fisioterapia, fonoaudiologia, gastroentereologia, ginecologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pediatria, psicologia, psiquiatria, reumatologia, urologia, enfermagem e odontologia.
Centenas de profissionais estiveram envolvidos nesse trabalho. Entre eles, o casal de dentistas Cristina e Marcelo Rodrigues Alves, que embarcaram nesta jornada pela 8ª vez. “Nosso trabalho começa bem antes do embarque para a Bahia, uma vez que participamos da preparação e da captação de doações para a ação”, conta Marcelo, que é especialista em Odontologia Estética. Segundo o odontólogo, devolver o sorriso a um paciente — e junto com ele, uma boa dose de autoestima — traz uma enorme satisfação.
Em Santaluz, o casal encontrou uma população bastante carente na área de saúde bucal. “Encontramos muitas lesões de cárie, especialmente entre as crianças. Ajudar a promover a reabilitação oral daqueles cidadãos nos encheu de orgulho”, acrescenta Cristina, que se destaca, entre outras áreas, no atendimento odontopediátrico.
As estimativas dos organizadores dão conta de que a equipe conseguiu realizar mais de 1.500 cirurgias de baixa ou média complexidade, além de ter realizado o encaminhamento de casos urgentes aos hospitais da cidade e da região. Os centros cirúrgicos foram dedicados à dermatologia, oftalmologia (catarata), urologia e cirurgia geral. Entre os especialistas que fizeram parte desse time estava o urologista João Cornicelli (CRM: 15.137), que fez a viagem junto aos Voluntários do Sertão pelo 10º ano. “Conheci o Doreedson, o Dorinho, por circunstâncias profissionais e encontrei na iniciativa dele uma oportunidade de dar continuidade a um trabalho que eu já havia feito anteriormente e tinha muito desejo de voltar a realizar”, conta o urologista. João integrou a primeira edição do Projeto Rondon, que aconteceu na região amazônica do Estado de Rondônia em 1967, quando ainda era estudante de Medicina.
Em Santaluz, encontrou uma região central bem cuidada, mas condições precárias de saneamento e água de baixa qualidade. “Apesar das limitações, encontrei, também, uma população extremamente grata pela nossa presença e muito disposta a ajudar no que fosse preciso para que pudéssemos realizar o nosso trabalho”, relata o médico. O agradecimento recebido de uma senhora nos corredores do centro cirúrgico é uma das lembranças que guarda com carinho no coração e que, certamente, ficará registrada na memória junto com tantas outras recordações desses 10 anos de trabalho solidário.
Jornadas intensas
Os dias de trabalho em Santaluz foram árduos. Nos postos de atendimento, o expediente começava às 7h e só terminava às 19h. Para o policial militar Marcelo Henrique Zanato, que é estudante do terceiro ano de Enfermagem, a jornada chegou a se estender até as 23h. “Eu já fazia alguns trabalhos comunitários junto à APAE e com crianças carentes em Ribeirão Preto, mas me interessei pela proposta dos Voluntários do Sertão, que conheci melhor quando me tornei aluno de Enfermagem. Inicialmente, participava das ações para arrecadação de recursos que possibilitassem a viagem, até que, em 2017, viajei para Irecê e não parei mais”, conta o policial militar.
Marcelo atua diretamente na logística, na montagem da infraestrutura e na organização dos materiais, função bem diferente da desempenhada pela esposa, a médica ginecologista e emergencialista Janaína Boldrini França (CRM: 111.484). “Minha função é coordenar o departamento de Ginecologia. Também atuo diretamente nos atendimentos de colposcopia e biopsias de colo uterino”, lista a especialista. Segundo a médica, a boa vontade e a disponibilidade da população para ajudar os Voluntários do Sertão compensaram todas as dificuldades que um cenário de pobreza e sofrimento impõem.
Engana-se quem pensa que o trabalho se encerrou com o retorno a Ribeirão Preto. “O Marcelo acompanha o descarregamento e a conferência dos materiais que estão retornando da Bahia. Eu ainda vou encaminhar os exames colhidos em Santaluz para análise e laudar os resultados”, continua Janaína. O casal, aliás, está envolvido com as ações da ONG durante o ano inteiro. Os dois fazem questão de colaborar no planejamento das próximas edições da ação humanitária e também na organização dos eventos realizados para angariar recursos para a iniciativa.
A dedicação é recompensada. “Depois que me envolvi com o trabalho dos Voluntários do Sertão, passei a dar mais valor ao que tenho. Passamos a entender que as dificuldades que enfrentamos no nosso dia a dia são insignificantes perto do que se pode encontrar Brasil afora”, garante o policial militar. A gratidão também está entre as lições destacadas pela médica ginecologista. “Ainda na viagem, voltei agradecendo a Deus por tudo que tenho na vida. Creio que o maior aprendizado que fica é entender que devemos agradecer mais e reclamar menos. Quero continuar ajudando o próximo e levando saúde aos mais carentes”, finaliza Janaína.
De acordo com Dorinho, esta foi mais uma edição bem-sucedida. “Fomos recebidos com muito amor pela população local e isso aumenta nossa motivação para as próximas ações do Voluntários do Sertão”, destacou o idealizador do projeto anual. A próxima cidade a ser atendida será definida no final de 2018.
Texto: Luiza Meirelles | Fotos: Airton Gonzaga
Fonte: Revide
AVISO: O conteúdo de cada comentário é de única e exclusiva responsabilidade do autor da mensagem.