por Leandro Flores
Jornalista – DRT 0018857/MG
No Sol escaldante de Brasília, em um dia histórico (e até melancólico para alguns), Jair Bolsonaro toma posse como presidente do Brasil.
E eu, jornalista independente, desocupado, em visita (depois de um convite especial) à Capital Federal, resolvi que deveria presenciar de perto esse momento e ver – finalmente – a cara, observar comportamentos e avaliar situações desse povo – apaixonado por um “mito”.
Nada surpreendente, porém, vivenciando de perto, a gente passa a acreditar naquilo que Bertolt Brecht diz: “Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis.“ As pessoas, principalmente o Brasileiro, carregam essa necessidade de um “herói”, de um tutor, sobretudo em um Estado, culturalmente paternalista que nem o nosso. E Jair, político experiente, espontâneo, falador encarna isso com perfeição e se torna o “mito”, personagem, um tanto folclórico, devido a paixão e a identificação pessoal que conquistou. Bolsonaro representava mais que uma ideologia para aquelas pessoas, era um sentimento de pertencimento, de que, de tudo aquilo que elas acreditavam, sentiam (ou não queriam sentir) estava agora ali encarnado… Era um Messias, trazendo uma “nova era” e com “um alvo perfeito” a quem [elas] poderiam justificar qualquer pensamento e pretensões…
O PT era uma espécie de válvula de escape a quem eles poderiam depositar todo sentimento ruim, toda culpa, todas as desmazelas do mundo… porque certamente seriam aplaudidos. Era um alívio. A certeza absoluta de estarem fazendo “a coisa certa”, independente do que fosse. E, principalmente, a certeza de que seriam “perdoados” também por isso porque agora o “comando” era outro. Era melhor “Jair se acostumando” como a maioria das camisetas diziam, quase sempre ilustradas com armas ou com a palavra “Deus” no final.
Havia um antipetismo exacerbado e coletivo. Piadinhas (de diversos humores), lives (transmissões ao vivo). Logo no início da entrada, por exemplo, um rapaz, em frente a um celular, gritava algo como “…não é justo um vagabundo, terrorista ladrão estar preso na sede da Polícia Federal, sustentado com o nosso dinheiro”. E outros tantos comentários que não consegui identificar. Mas sempre existindo a palavra “PT” ou “Lula”. Era um padrão.
Por outro lado, também havia um patriotismo que não fui capaz de ver em outro lugar. Não havia movimentos sociais, nem bandeiras – só a do Brasil – que as pessoas faziam questão de se enrolar até o pescoço e gritarem com orgulho o nome do país, seguindo um cortejo, aos milhares, no Plano Piloto de Brasília, em direção ao coração do novo poder estabelecido. Pessoas, em sua grande maioria, brancas, acompanhadas de suas famílias e com bons celulares para registrar tudo. Aquilo parecia – e era – um momento único na vida delas.
Muita segurança – tivemos que passar por quatro barreiras; um ambiente familiar, sem nenhuma confusão – apesar da enorme quantidade de pessoas se contorcendo para encontrar o melhor local para assistir a cerimônia, inclusive pessoas com deficiência (uma cadeirante, por exemplo, que foi auxiliada para passar na frente) e um sentimento único, daquelas pessoas, com bastante paixão, porém, muito respeitoso e ordeiro…
Não havia vendedores ambulantes. Todos estavam com sede, mas havia aqueles que tinham levado frutas e também uma barraca – com uma fila quilométrica – servia água gratuitamente a quem tinha paciência e disposição de saciar a sede. O foco, porém, era sempre o “mito”. Todo mundo seguia nessa mesma direção. “Parece formiguinha querendo mel” – disse alguém do meu lado – “ou melhor, parece aquela cena do “Celular” – corrigiu a pessoa.
Uma mulher exibia com orgulho o vídeo que fizera com o presidente acenando para o lado em que ela estava. “Ele acenou para mim” – mostrava ela, dando zoom na cena e repetindo o vídeo pela terceira vez. Um rapaz do meu lado, com cabelo impecavelmente penteado, puxou o coro: “Mito, cadê você, eu vim aqui só para te vê”. E, minutos depois, ele desce a rampa do congresso e caminha em nossa direção e acena… O povo vai a loucura. Homens, mulheres, a paixão era a mesma.
Logo depois, já na praça dos três poderes, onde tivemos que acompanhar o cortejo por um estreito corredor (pela quantidade de pessoas que havia) e pela barreira de segurança onde tivemos que passar, a cerimônia continuou… o sol estava castigando – tanto que algumas pessoas chegaram a passar mal -, mas, mesmo assim, elas assistiam [com esperança nos olhos] e vibravam com cada frase pronunciada pelo seu ídolo presidencial. Um telão transmitia tudo em um outro canto… Quando apareceu, porém, a imagem do Temer, todo mundo vaiou… quer dizer, todo mundo não, parte do público que estava ali assistindo…
E assim aconteceu… até onde pude acompanhar.
Dos bastidores do povo, essa foi a minha experiência. O objetivo não foi fazer nenhum tipo de julgamento, mas observar e descrever comportamentos de pessoas que celebravam um momento especial (a posse de alguém que elas acreditavam e referenciavam como representante seus). Independente da paixão, e até um certo fanatismo que carregam é inadmissível condenar quem quer que seja só porque escolheu um lado. Como disse Mano Brown, “as pessoas precisam ser conquistadas do contrário” se assim for o desejo de alguém em convencê-las. Tanto um lado quanto o outro. Em relação a mim, continuarei fazendo, com coerência e responsabilidade as minhas críticas – quando assim for preciso – aos políticos. E também saberei reconhecer, defender e elogiar o que for bom. Porém, devemos respeitar [regra fundamental] o momento e as pessoas. Só assim, teremos um país melhor e democrático.
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UM Comentário
Estou orando pelo Presidente da República e pelo seu novo Ministério para que tudo dê certo: Abaixo a corrupção, a imoralidade, a desonestidade, a deseducação, a falta de saúde,queremos estradas asfaltadas, segurança, trabalho e emprego. Que haja as reformas necessárias, que a Economia cresça, que seja implementada a nova BNCC, que haja menos impostos e mais esperança de melhores dias para o povo brasileiro.