O mundo enviou suas “câmeras” ao Brasil para ver craques nas até bilionárias novas arenas de futebol construídas em tempo recorde, mas acabou sendo surpreendido vendo o povo nas ruas expressando seus sentimentos de contrariedade. A Rede Globo de televisão, detentora dos direitos exclusivos de transmissão dos jogos da Copa das Confederações está tendo que dobrar-se diante de outras emissoras que, até por força das circunstâncias, estão priorizando o povo nas ruas, mobilizados através das Redes Sociais.
Se o motivo das manifestações fosse somente os “20 centavos” de aumento nas passagens de ônibus, já seria de bom tamanho. É que 20 centavos, multiplicados por milhões de passageiros, significa maior concentração de recursos nas mãos de uns poucos proprietários de empresas que oferecem péssimo serviço e, vez por outra, são denunciados como fonte de financiamento de partidos em eleições para defenderem seus interesses, mini retrato de um dos principais círculos viciosos da corrupção no país.
Há quem diga que muitos vão às ruas sem saber bem a razão. E daí? Isso não é demérito. Nem sempre sabemos com clareza as causas das nossas dores. Muita vez agimos como bebes incapazes de elaborar pensamentos, de expressar o que sente através da linguagem oral, por isso, instintivamente, apela para gritos e choro. “Bem aventurado os que choram…” (Mt. 5). E se não são ouvidos por reconhecimento de suas necessidades, o são pela inconveniência dos gritos, bem ao estilo da viúva perseverante diante do juiz ímpio, da Parábola de Jesus (Lc. 18).
Claro que na medida em que o movimento nas ruas cresce, crescem também as tentativas de elaboração discursiva do que está ocorrendo. Nesse processo de elaboração o discurso torna-se, inevitavelmente ideologizado, colocando-se a serviço dos interesses, das crenças, dos valores de quem discursa. Ainda assim a manifestação merece nosso apoio.
Alguém está feliz vendo, por exemplo, a Transnordestina ou o Metro de Salvador que nunca são concluídos quando arenas de futebol recebem bilhões de financiamento e são levantadas rapidamente? Alguém está feliz quando, diante de ininterruptas denúncias terríveis de corrupção no país, políticos propõem a PEC 37 conhecida como PEC da impunidade, que visa tirar o poder de investigação criminal dos ministérios públicos federal e estaduais, modificando a constituição? Alguém está feliz com as notícias diárias de assaltos de aposentados em saídas de bancos; de pais que perdem filhos assassinados; de aumento no tráfico de drogas? Alguém está feliz com serviços públicos educacionais e de saúde? Claro que não!
Isso tudo não é problema de um partido. Na verdade é problema de todos eles, pois o próprio Sistema Eleitoral, contrário às necessidades da população, é mantido por eles que não manifestam disposição para mudá-lo! Iludem-se, portanto, aqueles que acreditam que a solução está somente nas escolhas que fazemos nas urnas, inclusive porque nelas apenas ratificamos ou não os nomes de candidatos eleitos pelos partidos por sabe-se lá que critérios.
Antes de tudo, claro, devemos orar pelas autoridades, conforme recomendou-nos Paulo (I Tim. 2). Jamais, porém, isso deve ser usado como ideologia para o silêncio ou acomodação dos cristãos. Cabem também as palavras de Jesus dadas como resposta aos que pediam que os discípulos se calassem: “se eles se calarem, as pedras clamarão.” (Lc 19)!
Uma vez que, no final das contas, vivemos num Estado Democrático de Direito e, portanto, os problemas da sociedade são nossos, são de cada um de nós, manifestar-se nas ruas é um meio ética e legalmente legítimo, um importante meio de expressão de insatisfação. Mas não devemos ficar só nisso!
Fonte: Blog do Edvar
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UM Comentário
E eis que é chegado o momento de orgulhar-me da geração a qual faço parte.
Feliz demais com tudo que ando vendo e ouvindo, de todas as manifestações e lutas, dos gritos de ordem, para que haja desordem e progresso!!
Compartilho da mesma ideia do GRANDE Paulo Freire- que infelizmente não viveu para assistir a tudo isso- “…eu morreria feliz se eu visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas… marcha dos que não têm escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser… as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo…”
Estarei firme e forte nessa luta contra corrupção de todos os dias, contra o descaso com a educação, saúde e segurança e pelos direitos que nos são negados nesse país!