Por: Leandro Flores
Assim que a manifestação começou eu já sabia que algo novo estava por vir. Não era só por vinte centavos que aquele grupo protestava. Tantos que fui um dos primeiros a aceitar essa idéia de revolução em minha página no Facebook e comecei a compartilhar e curtir todas as noticias referentes ao tema. Na ocasião, muita gente ainda, ou não tinha uma idéia formada a respeito do que estava acontecendo e por isso não se manifestava ou discordava do movimento que estava se formando por alguns atos de suposto vandalismo, divulgados pela mídia, como forma de abafar a manifestação. Meu primeiro comentário foi o seguinte:
“Esses protestos contra o aumento de tarifa de transporte em SP, na minha opinião, são mais que louváveis. Está na hora da sociedade se manifestar para cobrar alguma coisa neste país. Agora já pensou se a gente se manifestasse assim contra a corrupção, para a mudança de nosso código penal e outras causas de igual importância? Aposto que muita coisa iria mudar neste país!!! Ah, se ia…”
Lembrando que quando eu fiz esse comentário ai na sexta-feira, os protestos baseavam apenas na redução de tarifas, ninguém ainda (pelo menos na minha visão de alcance) não tinha uma idéia dimensional dos fatos que viriam acontecer. E uma explosão de idéias logo se fez: aqueles protestos cresciam como fogo em palheiro, apesar das ações da mídia, e das autoridades em tentar marginalizar os protestos…
Continuei observando o movimento pela mídia e comentando nas minhas redes sociais (o protesto ainda não tinha ganhando novas demissões, mas aconteciam conflitos com os policiais e o povo expunha cartazes expressivos, como um dos que compartilhei em um senhor segurava um cartaz com os seguintes dizeres):
“Por Favor, não me bata, proteja-me”.
Logo comentei sobre a ilustração e publiquei em minha página: “Algo diferente está acontecendo! Tudo isso é reflexo daquela indignação que todos os dias a gente é obrigado a engolir. Que seja o começo de um novo tempo. Precisamos protestar mesmo contra tudo de errado nesse país, oportunismo político a parte, esse protesto é legitimo e precisa ganhar novas dimensões…”
Tudo acontecia como se os pensamentos das pessoas, de repente, se formassem em um único ponto: a indignação, aquele gostinho amargo que estávamos acostumados a engolir todos os dias agora azedava em nossa boca como fel e precisávamos cuspir aquilo de algum modo, seja participando ativamente do movimento, seja berrando nas redes sociais, nos bates-papos, pelo telefone, e-mail…
O Brasil já não era mais o mesmo naquele momento!
Logo após, outros Estados também aderiram a manifestação.
A Copa das Confederações agora era o alvo. Um absurdo! Tanta gente passando fome, tanta gente gemendo nas filas dos hospitais por falta de um médico, de um leito, de um remédio; quantas pessoas não estavam sendo assassinadas naquele momento, enquanto isso, poucas pessoas sorriam em um estádio de futebol magnífico, de primeiro mundo, custeado exatamente por essas pessoas que sofrem nos corredores de hospitais, que choram impotentes por não ter uma lei eficaz que lhes protege das crueldades dos assassinos a solta… Enquanto a torcida grita “olé” e vibra com um gol do Neymar, pessoas perambulam nas noites frias das cidades brasileiras a procura de alimentos, as escolas fecham por falta de verba, professores reclamam de seus salários…
Enquanto a Globo exibia imagens sensacionais dos estádios no nordeste, prontos ou quase prontos para a Copa do Mundo, o pequeno agricultor se desespera vendo seu pequeno rebanho morrer a cada dia por causa da seca, se desespera por que a água está cada vez mais restrita, mal dá para beber, e na tv só se fala de futebol. O contraste social. Já não acredita que aquele seja o mesmo mundo que o seu. O trabalhador já não tem tanto entusiasmo para se comemorar um gol, mesmo que o Ronaldo e o Pelé vão a Televisão pedirem para que ele deixe sua manifestação de lado para somente torcer pela seleção. Ele não aceita, quer voltar para a rua, mesmo tendo que enfrentar a truculência da policia com ordem expressas para atirar em seu rosto com uma bala de borracha se continuar protestando… Ele quer voltar porque não aguenta mais ganhar apenas um salário mínimo, enquanto seu representante em Brasília goza de toda regalia possível e ainda por cima pega seu dinheiro suado, sofrido e investe em estádios de futebol, estádios esses que ele jamais irá assistir a um jogo da seleção porque não tem condição de pagar o ingresso.
Os vintes centavos agora pouco importa, o povo nesse momento vaia a Presidente da República ao vivo em rede mundial de televisão, invade o Congresso Nacional em Brasília e se dirige ao Palácio do Governo de São Paulo com cartaz dizendo que não está nem ai para Copa do Mundo, que só quer saúde pública de qualidade, que só quer uma educação eficiente que só quer segurança para seus filhos…
O povo saiu do Facebook e vai para maior arquibancada do mundo: as ruas de todo Brasil, protestar contra as injustiças sociais que estão acostumados a se submeter. O gigante acorda. O Brasil deixa de ser um país de ingênuos em que o turismo social, a política do pão e circo, o governo ditatorial eram a cara desse país… Deixa de chamar atenção de gringos pela bunda, carnaval, futebol e samba para ser exemplo mundial de reivindicação de direitos, de cobranças por melhorias na saúde, educação, segurança, enfim… O Brasil agora luta para consolidação e sustentação definitiva de sua democracia: são os filhos da revolução tentando concertar algumas pendências deixadas pelos seus pais, diria Renato Russo, se estivesse vivo.
Geração Coca-Cola, que nada? Geração Facebook, a primavera árabes enfim chegou aos nossos quintais. Mas até o presente momento, nenhum fruto, apenas flores. Tudo pode acontecer. O que plantar, nasce. Temos a oportunidade de mudar o nosso país, como também poderemos destruí-lo. O país inteiro está em protesto. O povo almeja mudança, só que até agora ninguém abriu as salas de suas casas a fim de promover um diálogo consistente. Vejo que as flores podem murchar, ou espinhos crescerem em meio a terreno fértil. Estamos na torcida para que esse país passe com tranqüilidade por essa nova fase de amadurecimento, que Deus continue sendo o Deus dessa nação, que esse país deixe logo de ser menino para se tornar uma nação adulta, com pensamentos e atitudes de gente grande. Enfim. É tempo de torcida. É hora de lutar por um novo Brasil, uma nova cara, uma nova construção. Avante Brasil, parabéns a todos nós brasileiros por esse momento, por esse processo de redemocratização tão necessária à nossa nação.
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4 Comentários
É preciso estar atento ao que te “mobiliza” a ir às ruas. Muito cuidado, não seja massa de manobra, não se torne coxinha. Desistir jamais, mas pense no que efetivamente sua chama vai fortalecer, e isso não estará visível.
Corrupção, temos que banir do nosso país, mesmo que pra isso precisamos protestar pra se criar pena de morte pra esses politicos participarem de algum tipo de corrupção.
Obrigado pelos conselhos, Andressa, porém, acho que você se equivocou. Acho que “massa d
E manobra” são pessoas alienadas, omissas, acomodadas, de visão pouco afetiva, essas sim, fazem o jogo daqueles que não têm visão de futuro, que não aceitam mudança, que têm interesse de manter a ignorancia do outro. É só uma opinião.
SERGIO: eu defendo isso em minha página, veja: http://www.facebook.com/pages/Poemas-de-Leandro-Flores/275406112513784?ref=ts&fref=ts
Leandro, parabéns pelo texto. Discordo apenas do fato de que saquear lojas, bancos, atear fogo em concessionárias de veículos e jogar pedras em policiais seja suposto vandalismo. Sei que estes atos delituosos foram e estão sendo cometidos por uma minoria formada por marginais oportunistas, já que o outro lado (manifestantes) muito nos orgulha com as manifestações por todo o país.