O ano eu não me lembro, a década era de 80, o som que rolava era Golden Boys, Os Incríveis, Roberto Carlos e a Jovem Guarda, em Condeúba quem comandava o som era o Conjunto “APOLLO 11” , formado por Arlito, Zino, Tidim e Vadão. Participação especial de Carlito, às vezes.

 O local de ensaios era o Clube Fedosão e as apresentações eram em todos os lugares onde eram convidados e pagos.

Até hoje se pergunta o POR QUÊ  eles não ficaram ricos, pois talento não lhes faltavam, dedicação também não. Uma das hipóteses é a de que eles gastavam toda grana que ganhavam em GUISADOS (piquenique) à beira do rio Gavião, bem-te-vi, poço do costa, barragem, etc.,. e foi num desses guisados que surgiu o nosso “causo” de hoje.

Eles eram muito organizados e cada um exercia uma função, tanto no conjunto, como nos guisados, o líder era o vocalista e guitarrista Arlito, os cabelos, mais pareciam um monte abelhas pretas, estilo “Black Pauer” (“… cabelo na testa, não uso espelho pra me pentear…”) eram a nata do nosso som.

Fim de semana, muito trabalho nas festas, meio de semana, guisados.

Guisado armado para o rio gavião, função de cada um:

Arlito, levar a comida – Vadão, levar as bebidas – Tidim as varas de pesca e Zino as iscas para os anzóis.

Logo pela manhã de uma segunda-feira ensolarada eles rumaram pro rio, cantarolando suas músicas como se fora um ensaio ao ar livre, o baterista Vadão, dava o ritmo com o som da boca, sem desafinar.

Chegaram ao ponto, limparam o local, tomaram uma pra molhar a palavra, armaram as trempes, acenderam o fogo, distribuíram as varas  e foram para o rio iniciar a pescaria.

Arlito grita pro Zinho:

– Zino, onde você colocou as iscas?

Zino mexe daqui, mexe dali e percebe que esquecera as iscas em cima da mesa de Tervina. Com aquele sorriso matreiro que só ele tem, falou:

– Rapaziada, as iscas ficaram na casa da véa Tervina.

Arlito esbravejou: – Dê seu jeito, quero pescar e daqui não me movo. O trato foi você trazer as iscas. Se vira.

Zino saiu pela beira do rio à procura de minhocas, para que servissem de iscas, quando de repente, não mais que de repente, ele avista uma cobra com um caçote na boca,(caçote é uma espécie de sapo pequeno) esperto como ele só, vem em sua mente a grande idéia:

Vou tomar este caçote desta cobra e fazer isca dele.

Pega um gancho de pau, bem devagar vai apertando a cabeça da cobra entre o gancho e o chão, até que ela solta o caçote, pega o caçote e deixa o gancho apertando a cobra, quando vai saindo vê aquela cena: a cobra com a boca aberta, sufocada pelo gancho.

 Zino, cabra de coração mole, não se contém e dá alguns passos até a cobra, pega sua garrafa de pinga pura, da melhor qualidade, fundo de quintal e faz uma maldade com a cobra, enchendo-lhe a boca de cachaça até derramar, dada a posição da boca da cobra, ela, a cobra, teve que engolir a pinga de Zinho, que tirou o gancho do pescoço da cobra e saiu dividindo o caçote em pedaços para que servisse de isca.

Chegou para os amigos todo festivo, contou a história, todos riram e começaram a pescaria,.

Depois de algumas horas, já com algumas doses na cabeça, Zino sentiu que alguém lhe futucou, como Vadão estava do seu lado ele disse:

– Vadão, vê se para de me futucar, larga essa mania de achar que tudo é bateria.

Mas logo em seguida ele sente outro cutucão,  se reta e virando pro lado de onde veio a cutucada, grita:

– Que pôrr…

Antes que ele terminasse a frase ele vê a cobra, aquela de quem ele roubou o caçote e ainda fez a maldade de encher a boca da coitada de pinga…

Agora ela estava ali, parada, do seu lado, já o tinha futucado duas vezes com o rabo e trazia consigo três caçotes, com um olhar de quem veio fazer negócio:

Trocar os caçotes por pinga.  A cobra gostou da talagada, já tava viciada…

Zino fez mais uma amizade ao dar um gole de pinga pra cobra.

A amizade não durou muito, mas a culpa não foi deles( cobra e Zino), foi  daquele ditado que diz:  amizade feita em pé de balcão não dura muito.

Autor: Décio Pereira

E-mail: deciossa@yahoo.com.br