Carta do Episcopado Brasileiro às famílias, educadores e gestores por ocasião da Campanha da Fraternidade 2022

“Fala com sabedoria, ensina com amor”(cf. Pr 31,26).

Ao iniciar a Quaresma de 2022, nós,bispos católicos do Brasil, com coração de pastores, movidos pela força do amorde Deus e da missão que nos foi confiada, dirigimo-nos a todas as famílias, aoseducadores e aos gestores, para lhes falar de um tema tão caro a nós todos, aeducação. Ao escutar o apelo à conversão, próprio do tempo quaresmal,contemplamos a realidade da educação e precisamos descobrir gestos concretos demudança e transformação pessoal que tenham resultados no âmbito da educação.

Reconhecimento e gratidão

“Suplicamos-vos, irmãos, quereconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós.
Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem” (1Ts5,12-13).

Reconhecemos o caminho que se fez noBrasil referente à educação e elevamos a Deus nossa gratidão por tantas pessoasde boa vontade que se dedicaram e se dedicam à missão de educar inspirados emCristo Mestre e educador da vida e do amor.

Prezadas famílias, nossa gratidão avocês que se esforçam a cada dia assumindo sua laboriosa missão de educar.Vocês têm compreendido sua missão educadora: “Ensina à criança o caminho queela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar” (Pr 22,6).Sabemos que a educação não é função exclusiva da escola, mas um esforço coletivo,um dever tanto das famílias quanto do Estado, uma obra a ser feita em mutirão!

Obrigado, educadores e educadoras dasredes públicas municipal, estadual e federal e da rede privada, confessional ecomunitária, espalhados por todos os rincões do país. Vocês levam conhecimento,novos horizontes e cidadania ao incontável número de estudantes abrindo-lhesnovas oportunidades de sonharem seus projetos de vida. Reconhecemos o valor desua profissão de educadores que consagraram e consagram sua vida à missão de educar,enfrentando com compromisso ético-profissional os desafios próprios dasestruturas e condições de trabalho assim como do próprio sistema educacional.Nossa gratidão também aos gestores públicos que se esforçam por cumprir aimplementação do direito constitucional do ensino universal e gratuito para opovo brasileiro.

Com a pandemia da COVID-19, escolasforam fechadas. É preciso agradecer, de modo muito particular às famílias eoutros agentes educativos que não se descuidaram da educação das crianças,adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades enfrentadas.Nossa gratidão e reconhecimento por seus esforços, compromisso e humanismo. Comcerteza, a pandemia teria consequências muito mais devastadoras se não fosse aatuação das famílias e professores(as), pessoas de boa vontade e espíritosolidário e abnegado que demostraram assim que educação também se faz compaixão.

Pelo Pacto Educativo Global

“Levanta-te e come, porque tens umlongo caminho a percorrer” (1Rs 19,7).

No entanto, apesar de todos osavanços que merecem não só nosso reconhecimento como também nossa gratidão, éurgente afirmar que este é um caminho inconcluso, que há muito a se fazer, quetalvez o Brasil ainda esteja no início de seu processo de consolidaçãoeducacional. Afinal, educar exige o esforço e dedicação das famílias, doseducadores, das instituições, do Estado e principalmente de toda sociedade.Exige também investimento ostensivo, diretrizes e políticas públicas claras,acompanhamento sistemático e empenho geral de toda a sociedade. E isso não sefaz de um dia para o outro, nem sem um projeto de Estado, para além de projetospontuais de governos.

Famílias, vocês são chamadas a reverseu compromisso com a educação de seus filhos atuando sempre mais de maneiracolaborativa e cooperativa com a escola e os educadores. Por sua vez, vocêseducadores são chamados a avaliar de que maneira sua prática docente temcolaborado na formação humana, ética e cidadã de seus estudantes. Vocêsgestores, precisam discernir profundamente como os programas, currículos epolíticas educacionais colaboram na construção de um novo modelo de sociedade,preparando pessoas para a vida e não apenas para o mercado.

É urgente uma reforma de mentalidadeque torne a educação realmente prioridade. O Brasil precisa de uma mudançarealmente completa, radical, na qual a educação seja prioridade do Estadobrasileiro e de toda sociedade como nos propôs o Papa Francisco no PactoEducativo Global.

E, para que este processo educacionalseja levado a bom termo, isto é, torne os homens e mulheres mais humanos, énecessário olhar a pessoa como um todo, complexa e indivisível. Não é à toa queo mandamento maior do Senhor anuncia que é preciso amar de todas as formas epor todas as dimensões da existência: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teucoração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teupensamento; e a teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27).

Nossas esperanças

“O Senhor é bom para quem neleconfia, para a alma que o procura. Bom é esperar” (Lm 3,25-26).

Nossa mais viva esperança é que asfamílias, os educadores, os gestores, as escolas e a sociedade em suatotalidade assumam com entusiasmo e coragem sua missão na aldeia educativa deforma participativa e colaborativa. Cada lar seja um autêntico ambienteeducativo, no qual, por meio do encontro de gerações, se partilhe vivamente asexperiências edificando pessoas conscientes de sua história. Nossa esperança éque as escolas e universidades sejam centros de excelência não só acadêmica,mas também humanística. Que acolham todos os estudantes, especialmente os maispobres e desamparados, oferecendo-lhes uma oportunidade de vida diferente, commais esperança e alegria de viver. Nossa firme esperança é que cada educadorreceba o apoio necessário no exercício de sua missão educativa e assim despertee acompanhe as novas gerações na construção de projetos de vida que tenham comohorizonte o bem comum e a fraternidade. Por fim, esperamos que os gestoresconscientes de seu importante papel priorizem políticas públicas de projetoseducativos inclusivos.

Educar é uma tarefa exigente, que sefaz com paixão e com coragem frente aos desafios. Mas não estamos sozinhosneste esforço diário. Assistidos pela graça divina e amparados pelas luzes doEspírito de Deus, temos esperança de que este caminho, já iniciado pelo povobrasileiro e que continua a ser trilhado, ora com grandes avanços ora compreocupantes retrocessos, chegará um dia a bom termo.

Nós, bispos do Brasil, em totalespírito de serviço aos irmãos e irmãs, colocamo-nos à disposição para ajudarneste processo. A Igreja é solidária à causa educacional e nós, seus pastores,queremos continuar empregando todos os meios e recursos dos quais dispomos paraajudar neste amplo processo transformador da sociedade brasileira. Afinal, tudoo que toca a educação toca diretamente a sociedade.

Convocamos todas as famílias,comunidades, paróquias, dioceses para abraçarem a causa da educação em prol deuma humanidade fraterna. Renovando o processo educacional, temos certeza de querenovaremos as estruturas institucionais do Brasil em favor de um novo tempopara nosso país.

Que o Senhor, Pai de toda sabedoria eDeus das luzes, nos guie a todos e nos ampare em todos os nossos esforços! QueMaria e José, os educadores de Jesus, Filho de Deus, nos inspirem com seusexemplos e nos ajudem a sermos todos aprendizes e servidores do Evangelho davida. Que a força renovadora da Páscoa sustente nossos sonhos e missão.

Aparecida (SP), 6 de março de 2022

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