Ler devia ser proibido

Por: Antonio Carlos Azevedo da Silva

Dei-me ao prazer de relê algumas das obras mais fantásticas que já li até hoje: edições antigas do hoje RENOMADO Ddez – como, por exemplo, “A MORTE DE OZÓRIO” entre muitas outras. Foi pena que minutos depois minha amada esposa adentra a cozinha, sorridente, e me diz? quer ver a nova edição do jornalzinho deles? –  evidente que como um crítico não perderia tal “chancha” Evidente que após ler o que havia de menos meloso vieram as comparações e minha conclusão gostaria de compartilhar com o Ddez, pois bem:

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Giocome Nerode. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à Giocome Nerode insano, tomou-se a vida inútil para leituras religiosas, perdendo-se em delírios sobre vidas corretas e pecadores imperdoáveis.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria NUNCA o sumo bem do Ddez: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Transportam-nos a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Fazem-nos acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

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5 Comentários

  • Celso disse:

    Parabéns Antonio Carlos, texto inteligente e sagaz. Valeu mesmo pela sua sacada.

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  • José Carlos disse:

    A leitura, de fato, é uma ferramenta perigosa na mão do homem inconciente, pois, ela pode ser como o fogo da queimada criminosa, a arma na mão do traficante analfabeto, vítimado das falhas educacionais. O grande perigo da leitura, é o fato de atribuir conhencimeto a seres humanos mal intencionados, e nada mais! Nunca se devre prejugar a inteligência do homem, seja de um alto didata articulador; ou, de um sego para as letras, mas que enchergar as armadilhas da vida com grande maestria. Devemos entender que a leitura democrática ( para todos), ainda é criança, mas o homem é homem, desde que mundo é mundo, e sua natureza de bondade, ou de pervercidade, é bem conhecida, pelo menos, de Cristo até hoje, quem ler, sabe! O Texto e as idéias são fantásticas, aprendi muito com o altor, pois apartir do trexto dele, iremos ler com maior sabedoria, e transformar essas ideias malfeitoras em soluções, iremos apartir de agora refultá-las para o bem, uma vez, que não é possível viver sem a leitua nos dias atuais.

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  • Ana Carla disse:

    Cau, valeu muito. Gostei demais do seu texto. Boa forma de nos levar a refletir. Gosto de todos vcs deste site maravilhoso. Um grande beijo para todos. Continue escrevendo cada vez mais, para nossa alegria.

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  • Parabéns pela escolha o belo texto da grande mineira Guiomar de Grammont.
    Divulgar textos como este é uma forma de levar ao público um pensamento crítico e reflexivo, essencial para nos incentivar a olhar o mundo por um ângulo privilegiado e atento.
    Só tenho uma sugestão: é importante valorizarmos os autores dos quais fazemos nossas leituras e compartilhamos com os demais, por meio da indicação da referência de seus textos.

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  • Sou professor de Língua Portuguesa, por isso não concordo com o texto transcrito por Antonio Carlos. No entanto, estamos caminhando para isto, tendo em vista os analfabetos funcionais que a escola pública está formando. São pessoas que saem do 3º Ano do Ensino Médio e não possuem capacidade de ler e interpretar o que leu. São alunos pobres que não podem estudar na rede privada. Muitos deles não conseguem passar no vestibular nem tirar boas notas no Enem. São pessoas destinadas a obedecer àqueles que sabem ler, escrever e interpretar, isto é, aos poderosos. De qualquer forma, o texto é muito interessante. Parabéns, Cau. Agnério

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