Professores – E eu com isso?

Por: Décio Pereira

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Tenho consciência de que fazer parte dos 10% da população brasileira que tem salários e benefícios trabalhistas razoáveis é um privilégio; sei também que foi primeiramente pela misericórdia de Deus e muito pouco por merecimento de minha parte, fato que não permito que passe um dia sequer sem que haja o meu sincero agradecimento ao Deus em quem confio. Mas, isso às vezes me deixa com a sensação de que fiz alguma coisa errada, já que 90% dos outros não vivem em situação similar, é a maldita desigualdade que é evidente em nosso país e que incomoda há algumas pessoas, a mim, muito.

Em segundo lugar, cheguei onde cheguei e diga-se de passagem não fui tão longe, por minha culpa, guiado pelas mãos de professores. Desde a minha primeira professora, Profa. Hélia Carvalho, a quem serei eternamente grato, até o meu último professor(a) que nem sei o nome, já que continuo nesse interminável processo de aprendizagem. O único emprego que tive foi oriundo de uma indicação do meu nome, feita pela Profa. Marlene Prates, para que eu participasse de uma entrevista junto com mais 11 colegas de colégio. Por lá fiquei até hoje. Minha história não é diferente da de milhões de outros trabalhadores ou até de pessoas que por essa ou aquela razão, não trabalham. O certo é: quase todos nós passamos pelas mãos de um professor. “Professor é a profissão que faz todas as profissões”

Educação é obrigação do estado e direito de todo cidadão, está na constituição. Desde que o mundo é mundo existem professores e alunos. Autoridades são eleitas para gerir esta relação de trabalho e emprego, através de leis que são criadas por eles, cabendo ao estado pagar os professores e, esses por sua vez, prestarem um serviço de qualidade à população, conforme manda os meandros da lei. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm

Então a pergunta é: E eu com isso?

Eu tenho tudo a ver com isso –

Eu precisei e preciso de professores todos os dias; meus filhos precisam de professores todos os dias; meus netos, se eu os tiver, precisarão de professores… e não é diferente com você e com todos os outros seres humanos, seja você a Presidente da Republica ou o cara que varre nossa rua e aí é que vem a dicotomia: Por que um profissional tão importante na vida de todos nós é tão mal remunerado? – Precisaríamos escrever mais um livro para discorrer sobre o assunto, com milhares de páginas e nem assim conseguiríamos explicar, então fiquemos com perguntas mais simples, como:

– Por que os governos não cumprem a Lei 11.738, de 16/07/2008 e pagam o famigerado piso nacional dos professores?

– Por que nossas autoridades políticas (todas), que em parte são professores, funcionam de acordo com seus interesses partidários, mudando de opinião de acordo com o momento, esquecendo o passado, alugando o presente e desprezando o futuro?

– Por que para alguns políticos, uma Lei aprovada em 2008 só passou a ser importante agora em 2013 e para outros que tanto lutaram para que esta mesma Lei fosse cumprida, de repente perdeu a importância de outrora?

-NÃO ME REPRESENTA POLITICO QUE NÃO TEM COERÊNCIA ENTRE DISCURSO E ATITUDES –

O certo é que a luta dos professores precisa ser a nossa luta, pois teremos melhor saúde se tivermos melhor educação; teremos melhor segurança se tivermos melhor educação, teremos melhores empregos se tivermos melhor educação; teremos, indubitavelmente, melhores seres humanos se tivermos melhor educação.

Transcrevo esta minha opinião no dia reservado ao professor, que hoje se apresenta como o dia da vergonha nacional, pois quando olhamos para um contracheque de um professor e o comparamos com o de um político, uma pergunta salta aos olhos: Para a sociedade o que é mais importante um professor ou um político?

Também não vou aliviar o lado de uma parcela considerável de maus professores, que na verdade não são professores, estão professores porque não tiveram a capacidade de realizar seus sonhos e/ou projetos profissionais e encostaram-se a uma sala de aula para não morrerem de fome, por isso: fraudam o ponto, usam atestados médicos falsos, são relapsos no ensinar, só pensam em salários, vivem atrás de cargos onde possam cada vez fazer menos, disputando com unhas e dentes quem é menos produtivo para a educação e não tem coragem de lutar pelos seus direitos. Ao invés de solução, são verdadeiros problemas insolúveis para a educação e para seus diretores. Esses, deveriam estar no olho da rua.

“Está no livro, está na sala

Mas não está no coração

Está no português, na matemática

Mas não se fez a encarnação.

Está na letra, está na lupa

E lá se foi a compaixão.

Está nos lábios, está na lábia

De quem a muito já não tem noção.

Dos desvarios, dos vãos desvios

Da estupidez da ostentação…

Em olhos que não querem ver

A sua própria condição” – Jorge Camargo

Quando exponho minha opinião sobre assuntos tão relevantes, recebo uma enxurrada de e-mails, recados, telefonemas de pessoas que vão desde um elogio até uma ameaça física, sem contar que pelos cantos das ruas sou taxado de polêmico e maluco, mas isso nunca me incomodou. Enquanto pulsar em mim a veia do descontentamento, enquanto minha mente tiver a condição de indignar-se, Deus há de me dar forças para não ter medo de sair da minha zona de conforto, para ter um mínimo de coerência entre o que prego, o que pregava e o que pregarei, relacionado com minhas atitudes. Fico estarrecido com pessoas que tem a oportunidade de mudar a vida de seus pares, para melhor e não o fazem pela pequenez de suas prioridades, que se alternam de acordo com a posição ou cargo que ocupam. Estamos no mundo para fazermos diferença e não para ficarmos massageando o ego de quem quer que seja, prostituindo nossos ideais em prol de benefícios fugazes. Não me preocupa se os holofotes não vão me acompanhar, se todos os dias eu puder dormir com minha consciência tranqüila de que lutei do lado certo e, neste momento o meu lado é o dos professores, na luta por um plano de cargos e salários justo, tendo como interesse precípuo a defesa intransigente da educação em Condeúba.

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis” Bertold Brecht

Precisamos de homens coerentes e imprescindíveis lutando pela educação, pois a disseminação da deseducação na sociedade moderna é endêmica. Poucos são os que conseguem discernir entre o importante e o urgente – Por exemplo, se tornou urgente aprovar um plano de carreira para os professores, porque foi negligenciado enquanto ainda era importante. Políticos e professores, reflitam e construam a muitas mãos o futuro da nossa educação, com inteligência, para que sejamos conduzidos por nossos sonhos e não por nossas necessidades.

A todos os meus amigos, mestres, um ótimo dia do professor. MELHORES DIAS VIRÃO, SE LUTARMOS POR ELES.

“Professor é a profissão que faz todas as profissões. Respeite. Admire. Reconheça.”

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12 Comentários

  • Ana (Professora) disse:

    Décio, q Deus te abençoe. Obrigada. Hj me senti feliz or ser professora. Ainfa há esperança.

    “Fico estarrecido com pessoas que tem a oportunidade de mudar a vida de seus pares, para melhor e não o fazem pela pequenez de suas prioridades, que se alternam de acordo com a posição ou cargo que ocupam. Estamos no mundo para fazermos diferença e não para ficarmos massageando o ego de quem quer que seja, prostituindo nossos ideais em prol de benefícios fugazes.”

    Só essa parte já era suficiente.

  • João Martins disse:

    Dez tá ficando bom nesse negocio de escrever. Parabéns, texto convidativo à discussão. Gosto de quem não fica em cima de muro. Parabéns pela coragem, não é pra todo mundo, só para os IMPRESCINDIVEIS e vc é cara.

  • Jose Carlos! disse:

    Agradecimentos pelas homenagens, por nos fazerem felizes! Pelo apoio, por nos fortalecer e nos encorajar! Pelas críticas, por nos solidificar em experiências! E principalmente, pela simplicidade, e coragem de nos oferecer verdades. Virtude de poucos! Eu poderia agradecer as homenagens, me apoiar no suporte, ou, simplesmente, me defender das críticas, mas não! Isso, apenas, pelo fato de serem questões que fazem parte de toda existência humana, portanto, pertence a nossa missão, nós vivemos esse pacote e dele somos parte! Que queira, ou não. Muito obrigado!

  • Andressa Ribeiro disse:

    Orgulhosa!! Sensacional!!! Quem te conhece sabe o quanto são verdadeiras suas palavras. Loucos?? São eles, eles estão surdos, ou não querem enxergar. O comodismo é muito mais eficaz para uma vida “tranquila” nos dias de hoje. “E eu com isso?” Se conseguir tocar a consciência de um cidadão que seja, tudo já valeu apena. Quem aceita qualquer coisa não pode brigar por excelência. E isso vale para todos os lados envolvidos na questão.

  • Norma disse:

    Queria ter metade da sua loucura. As lagrimas vieram aos olhos. Obrigada por nos encorajar. Falo minhas as palavras de Jose Carlos, para não ficar me repetindo.

  • fabiano byu disse:

    ISSO AI CAMARADA SOLTE O VERBO; (situaçao de ontem ou situaçao de agora) todos tem que ouvir porque eles só vao na base o interesse.

  • Maria Silva disse:

    Dez VC ME REPRESENTA. Parabens!

  • Mariana disse:

    Vc tá do nosso lado e eu tb estou do seu lado. Sou professora, com muito orgulho, quero q vc seja politico para eu votar em vc.

  • Anfrísio Carvalho da Rocha disse:

    Caro Décio não sei qual a sua formação, mas parabenizo aos professores que teve pois percebi o quanto te ensinaram a ter visão e entendimento para escrever palavras tão marcantes e verdadeiras. Sou professor aqui em Piripá e esta foi minha opção pois as oportunidade em outros setores forma muitos. Realmente a nossa valorização ainda não é digna dos nossos méritos. Por pouco não estava aí na sua cidade Condeúba. Fui aprovado em 1º lugar no concurso que teve aí anterior ao último mas a então secretária da época disse que só tinha vaga numa localidade muito distante o que me impossibilitava, sabendo eu que a vaga na sede existia mas não quis criar caso. Afinal competência teria para passar em outros como fiz e tou muito bem alocado com três concursos sendo dois do estado e um na prefeitura de Piripá, sem contar os que não assumi por opção.
    Infelizmente aqueles profissionais que fazem da educação uma escada por não conseguirem outra coisa como você citou existem. É uma pena pois tira um pouco da qualidade da educação e perde com isso nossos alunos.
    Parabéns mais uma vez pela publicação foi muito feliz nas suas palavras!

  • João Gulberto disse:

    Décio,
    Quero parabenizá-lo pelo texto maravilhoso que escreveu!
    Vivemos em um país com tantos problemas em educação, saúde e segurança, que a única solução que teríamos seria um investimento maciço em educação, resultado que só veríamos em longo prazo. Mas o que vemos, é que isso é uma coisa que os nossos governantes não tem muito interesse em fazer. Se voltarmos no tempo há sessenta e oito anos atrás, o cenário de países como Alemanha e Japão era de total destruição. Hoje vemos esse países configurarem entre as cinco maiores economias do mundo, isso só foi possível graças ao grande investimento que foi feito em educação. E quando falamos em investimento em educação, é imprescindível, que comece com a valorização da carreira docente, que é o ponto fundamental para a construção de uma educação de qualidade. Não podemos perder as esperanças, temos que continuar lutando e acreditar na mudança para um mundo melhor.
    “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda” – Paulo Freire.

  • MARCIA disse:

    Deveria ser mais uma profissão como qualquer outra daquelas de rotina, de tarefas repetitivas dia após dia que findam ao término do expediente, mas o fato é que toda regra tem sua exceção.
    Talvez ser professor seja diferente de tudo isso… A cada dia novas lutas e desafios! E quantos professores já passaram pela nossa vida? Dos mais rígidos aos pareciam ensinar brincando. Que nos acompanham desde muito tempo que nos ensinaram a ler e escrever as primeiras palavras e que foram nossa segunda família. Que tiveram tamanha paciência em passar aquelas fórmulas, cálculos e teorias assustadoras, mas que na hora certa sabiam ter pulso firme, que sabiam ouvir e conhecer cada um e que nunca desistiram acreditando na força transformadora que tem a educação.Educar, formar crianças, adolescentes, homens e mulheres. Formar cidadãos conscientes da construção de um país melhor onde a educação se estenda a todos e que ensinar seja a missão do eterno aprender!
    Tenho fé que um dia muito próximo alguém olhará para essa classe com um olhar de AMOR, CARINHO, HONESTIDADE e dará o valor merecido a esses professores condeubense.

    Décio,
    PARABÉNS PELO LINDO TEXTO.

  • Marittza Ribeiro disse:

    Sabe quando o texto fica martelando o juízo? Efeito delicioso!!!! Valeu pela homenagem, pelas futucadas, críticas, puxões de orelha…pela bela exposição, você fez jus aos ensinamentos de seus professores. Parabéns!!!

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